ARTIGO

Conteúdo

Agronegócio e natureza

Mauricio Moraes, sócio da PwC Brasil e líder de Agribusiness e Fabio Pereira, diretor da PwC Brasil e especialista em Agribusiness
feedfood
Foto: reprodução

De alguma forma, todas as atividades econômicas dependem da natureza. A natureza fornece aos negócios recursos valiosos, como matérias primas e água. Os serviços da natureza incluem proteção, como zonas úmidas e áreas de várzeas que mitigam inundações, purificação, quando as florestas e outras plantas removem poluentes e gás carbônico do ar, além da produção de alimentos, fibras, como algodão, e bioenergia, exemplo do etanol. No agronegócio a natureza é a base da produção agropecuária por vários meios, pela relação entre clima-solo-água-planta, além dos insetos para polinização, animais da fauna, macro e microorganismos presentes no ambiente.

Quando se relaciona as atividades econômicas e os ecossistemas naturais, observa-se que 55% do PIB (Produto Interno Bruto) global – equivalente a cerca de USD 58 trilhões – é moderada ou altamente dependente da natureza, segundo levantamento realizado pelo Fórum Econômico Mundial e PwC com dados de 2020. Se considerar somente as atividades relacionadas ao agronegócio, incluindo alimentos e bebidas, equivalem a cerca de 10% do PIB global, nesse caso, é altamente dependente da natureza, sendo que do valor econômico gerado pelas operações diretas e supply chain, 100% e 70% respectivamente, dependem de recursos naturais.

Essa dependência não é surpresa para os produtores rurais, pesquisadores e demais profissionais que atuam no agronegócio, principalmente no Brasil, pois foi atuando de forma sustentável nos últimos 50 anos que o país saiu da posição de importador de alimentos para um dos principais fornecedores globais. A produção agropecuária e florestal evoluiu exatamente pelo fato de ter uma base científica apoiada nos sistemas da natureza, vide plantio direto na palha que permitiu a produção de duas safras, soja e milho, no mesmo ano calendário, com efeito poupa-terra e redução da perda de solo por erosão, integração lavoura-pecuária-floresta, uso de bioinsumos, entre outras práticas ambientalmente sustentáveis.

Graças a esse avanço sustentável na produção agrícola, foi possível preservar a maior parte do território nacional com reservas legais nas propriedades rurais, inclusive isso faz parte da legislação, através do código florestal. O Brasil é o único país do mundo considerando sua escala de produção que consegue demonstrar sustentabilidade e resiliência, agregando produtividade ano após ano e preservando o meio ambiente.

Em um contexto de mudanças climáticas a gestão do agronegócio seguirá ainda mais forte na busca para um manejo agronômico com práticas sustentáveis e agricultura mais regenerativa, no sentido de que é necessário produzir bem para se comer e vivem bem, é preciso pensar de forma holística o sistema de produção, pois está tudo integrado ao longo das cadeias de valor. O conceito de que uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco pode ser aplicado nessa equação, já que um setor que não atende aos requisitos, irá impactar os demais e consequentemente toda a sociedade.

Produzir com foco no ecossistema da natureza é fundamental. No agronegócio as condições do ambiente afetam diretamente os resultados financeiros. A visão futura do agro deve buscar possibilidades de criar modelos de negócios ainda mais positivos, que não apenas mitiguem os riscos relacionados às mudanças climáticas, mas tragam retornos financeiros e beneficiem a sociedade. Por exemplo, soluções baseadas na agricultura regenerativa que tornam a produção mais resiliente e ajudam a reduzir emissões e, ao mesmo tempo, a capturar carbono, melhorando a biodiversidade, proteção de nascentes, entre outros serviços ambientais.

O setor vem avançando fortemente na gestão eficiente dos riscos e impactos da natureza nas atividades agropecuárias, através de pesquisa, inovação e tecnologia em suas diversas frentes. E isso será ainda mais desafiador em função não somente das questões climáticas, mas de toda a conjuntura de mercados, geopolítica e social. Para isso, fontes de dados, sistemas e controles precisarão ser altamente confiáveis, de modo a mensurar as já adotadas práticas sustentáveis na produção agropecuária e florestal, para que o produtor e empresário rural, além de produzir bem seja remunerado por agregar valor ao consumidor e a toda a sociedade pela preservação dos recursos naturais.

LEIA TAMBÉM:

PIB do agro tem avanço acumulado de 0,5% em 2023

Ações brasileiras são destaque nas Conferências da FAO

Uso de tanino reduz emissão de GEE em 17% na pecuária