Natália Ponse, de Mogi das Cruzes (SP)
Esperança. Nunca uma palavra descreveu tão em sua essência o momento atual brasileiro. Eleito o novo presidente, começam as especulações: o que fará? Como fará? Quando fará? São respostas que ainda não é possível obter – não até a divulgação do seu plano de governo e até a passagem dos seus 100 primeiros dias na liderança da República, período considerado crucial para entender qual será o ritmo da nova equipe gestora do Brasil.
No entanto, o mercado precisa se preparar. Falando de agronegócio, considerado o setor que sustentou a economia brasileira em períodos de crise, isso se eleva à terceira potência. Por isso, analistas e profissionais do mercado já iniciam a análise de dados e começam a desenhar qual será o futuro dos grãos e da proteína animal para o próximo ano.
Matéria prima para a nutrição da cadeia produtiva nacional, o setor de grãos espera cautela para 2019. “Projetamos os mesmos índices de 2016 e 2018. Será um ano de novo governo e praticamente todo o setor vê um crescimento bom para o Brasil: maior produção industrial, menor desemprego… Com isso o mercado se fortalece e a situação tende a melhorar em todos os sentidos”, comenta o Sr Grain e FX Trader da Cargill, Wagner Assis. O assunto veio à tona durante o lançamento do Rapid Neopigg, novo programa nutricional da empresa, em São Paulo (SP). O profissional, no entanto, ressalta: “Para que tudo isso se torne realidade e o Brasil volte aos trilhos do crescimento, a nova equipe do governo precisa trabalhar bem, e a luta, que já está difícil agora, estará difícil também no ano que vem”.
Wagner Assis acredita numa estabilidade do dólar, sem grandes acontecimentos. “Os mais pessimistas veem que, se nada ocorrer nos seis primeiros meses de governo, o dólar deve saltar a US$ 4,70”, indica. Para ele, caso Jair Bolsonaro não seja o tal “Messias” que se esperava, o mercado estrangeiro entra no jogo. “Se Bolsonaro e Paulo Guedes conseguirem fazer algo bem feito, o mercado dará um aval de confiança, e pode ser que comecemos o ano com o dólar a um patamar entre US$ 3,60 e US$ 3,80, o que é bem justo”, diz.
Ainda sobre o mercado internacional, ele acredita que também haverá variação constante no preço da commoditie em 2019, mas que esse cenário depende muito de duas grandes economias: EUA e China. “Várias economias estão dando passos para trás, quando éramos para estar em um mundo de livre mercado. Hoje o Trump está ‘ganhando’, a economia nos Estados Unidos está aquecida, desemprego baixo… E os números da China estão começando a cair, num crescimento frustrado. Vai ser difícil que ambos cheguem a um acordo sobre essa guerra comercial em curto prazo”, finaliza.
Falando de carne suína, o engenheiro agrônomo e sócio da Agroconsult, Maurício Palma Nogueira, referência no setor, acredita que é preciso mostrar ao mundo que produzimos com eficiência e cuidado, respaldados em tecnologia que permite ofertar segurança. Para ele, apesar da queda nas exportações em 2018 em razão do embargo russo (que só recentemente foi revogado, quando se esperava tal acontecimento no meio do ano) e das dificuldades no mercado interno devido à greve dos caminhoneiros em junho, o ano de 2019 deve trazer um crescimento tanto na produção, quanto na exportação, e ainda na rentabilidade do produtor de suínos e da indústria. Mas, novamente, cautela. O resultado “positivo” de 2019 carregará uma bagagem negativa de 2018 e, sendo assim, a melhora mais sólida só deve ocorrer em 2020.
“O Brasil ainda não colocou o pé entre os maiores exportadores de carne suína, ainda não é um país considerado confiável para se comprar carne suína, já que nosso volume é pequeno comparado ao que se vende em todo o mundo”, pontua Nogueira.
De acordo com Nogueira, por estar atuando com margens baixas, o suinocultor deve concentrar a sua produção no próximo ano. “Não é questão de opinião, é baseado em números: Com margem baixa e produção baixa, muita gente sai do mercado. Quem ficar, aumenta a escala”, pontua. Então, numa situação em que durante todo o ano os produtores amargaram prejuízo, a produção não tende a aumentar e, assim, se eleva os preços para quem ficou no mercado.
Para o consultor, os melhores mercados para se acessar são os de países que estão enriquecendo. “O Bolsonaro uma hora fronta o chinês, outra hora o árabe, não podemos fazer isso. Uma hora alguém vai ter que pagar essa conta, e é o setor agropecuário, que é dependente do mercado externo”, recomenda e analisa: dada a ciclididade do mercado, com o cenário positivo previsto para 2020, é preciso pensar com cautela, desde já, sobre 2021.