Natália Ponse, da redação
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O fortalecimento da pecuária brasileira se dá por meio de vários fatores, dentre eles está a coleta de dados sobre o rebanho nacional. Esse tipo de ferramenta baliza e define as estratégias para a adoção de programas essenciais ao crescimento do setor. Este ano o assunto foi motivo de especulações, quando a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgaram praticamente no mesmo dia o tamanho do rebanho verde e amarelo.
A questão é que houve divergência quanto aos números: o “Perfil da Pecuária Brasileira” (da Abiec) apontou 221 milhões de cabeças, enquanto os dados preliminares do Censo Agropecuário 2017 (do IBGE) divulgaram 172 milhões de cabeças – uma diferença de 49 milhões.
A Athenagro, responsável pelo relatório “Perfil da Pecuária Brasileira” (PPM), decidiu fornecer uma explicação sobre a metodologia e as motivações que teriam levado à divulgação de um número maior do que o real. “O real tamanho do rebanho é a informação mais incerta em relação à pecuária brasileira”, divulga a Athenagro.
Uma das especulações que mais circulou dizia respeito a um eventual uso especulativo para alterar a tendência de mercado. Se fosse essa a intenção, a consultoria afirma que bastaria lançar mão dos dados do USDA, principal fonte mundial, que projetou um rebanho de 232,4 milhões de cabeças para o Brasil em 2017. São 10,6 milhões a mais do que o projetado pelo critério usado na Athenagro.
Não é a primeira vez que os dados do Censo são significativamente diferentes dos publicados pelo próprio IBGE no mesmo ano. Em 2006, o IBGE divulgou um rebanho de 176,1 milhões de cabeças, enquanto a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) divulgada pelo instituto trazia um montante de 205,9 milhões de cabeças – uma diferença de 29,8 milhões de cabeças entre os dados da mesma fonte.
Conforme a Athenagro, novamente em 2017, os números do Censo apresentaram um rebanho coincidentemente do mesmo tamanho que o de 2006 (172 milhões de cabeças), mais de 46 milhões de cabeças a menos do que a PPM de 2016. Antes de a PPM 2017 divulgar seu resultado (214 milhões de cabeças), a empresa projetava o rebanho em 221,8 milhões este número.
“A estimativa preliminar feita pela Athenagro objetiva antecipar os dados. Tão logo o rebanho é atualizado pela PPM do IBGE, as projeções são substituídas para o ano de divulgação, e as projeções corrigidas para o ano seguinte”, reforça a empresa.
No início do ano, com a divulgação do perfil de abate do primeiro trimestre, as projeções de aumento do rebanho foram revisadas para baixo, ou seja, o rebanho voltaria a estabilizar ou cair, segundo o acompanhamento da Athenagro. “Dada a morosidade da divulgação de estatísticas no Brasil, a informação oficial só será conhecida no final de 2019”, salienta a companhia.
O problema é que a diferença entre os dados do mesmo instituto (IBGE) supera o rebanho do sétimo maior país em população bovina do mundo: o Paquistão. Justamente pelas dúvidas geradas pelas estatísticas do tamanho do rebanho, a Athenagro salienta que evita contar com a informação para análises mais específicas – ou seja, para a realização dos estudos, eles usam outros indicadores para projetar oferta e demanda de animais.
Para dimensionar e regionalizar as análises pecuárias, no entanto, é fundamental lançar mão de um abase de dados com divulgação frequente e considerando a mesma metodologia para todos os municípios. Por essa razão os dados do PPM são mais utilizados, sendo inclusive usada pela FAO, que detém as mais completas estatísticas do mundo. No gráfico abaixo é possível comparar, na evolução do rebanho brasileiro, a diferença entre os dados de diferentes fontes:
As estimativas da Athenagro seguem os dados da PPM, com exceção entre os anos de 2013 e 2014, quando a base de dados passou a considerar as informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), quando houve um descolamento das estatísticas entre ambos. Depois de 2015, mais uma vez, a opção foi acompanhar a PPM para manter um critério que possa ser regionalizado.
Todas as curvas do gráfico trabalham numa estimativa de aumento, justificando a projeção preliminar para 2017, que levaria o rebanho às 221,8 milhões de cabeças. Ainda com relação às estatísticas é possível destacar a diferença entre as projeções do USDA e das bases nacionais para o período. “Até bem pouco tempo atrás, os dados do USDA, mesmo para o Brasil, ainda eram os mais utilizados pelas consultorias”, menciona a Athenagro.
Sumário e rebanho. O principal objetivo do Perfil da PEcuária BRasileira, encomendado pela Abiec, é trazer informações que são pouco divulgadas, explorando estatísticas que outras iniciativas não contemplam. De acordo com a empresa de consultoria, o interesse não é aprofundar conhecimento sobre quantidade do rebanho, mas, sim, compreender a dinâmica econômica da cadeia produtiva da pecuária de corte e a importãncia das exportações.
Outro objetivo é acompanhar os avanços no tema da sustentabilidade, esclarecendo informações que são muitas vezes monopolizadas por grupos de interesse alinhados com agendas negativas à pecuária. O maior esforço é estimar o movimento da cadeia produtiva da pecuária de corte e, por isso, o tamanho do rebanho não influencia no cálculo. Caso se confirme que o rebanho é menor do que o estimado, a conclusão seria que os etor já trabalha com um pacote tecnológico maior em relação ao considerado.
“Essa informação, caso confirmada, evidenciaria que a resposta do pecuarista em ofertar é maior do que o que se acredita”, divulga a Athenagro, que complementa: “O tamanho do rebanho evidentemente é uma informação importante. Mas, justamente por gerar inúmeras dúvidas, a opção acaba sendo usar outros indicadores e métodos para se trabalhar com os cenários pecuários”.