Natália Ponse, da redação
O campo é verde e o time precisa jogar em sintonia para que o resultado agrade a torcida. Poderíamos estar falando de futebol, mas na verdade o cenário também se aplica à produção da carne bovina. Os agentes responsáveis por este ingrediente estão em todos os pontos da cadeia – e o trabalho dura mais do que os 90 minutos de uma partida.
De quatro em quatro anos, o brasileiro une amigos e familiares em casa para acompanhar a seleção canarinho. E, como em toda reunião de um tradicional cidadão verde e amarelo, o churrasco brilha tanto quanto a taça dourada. Não é à toa que, mesmo com a instabilidade econômica e os horários de jogos em dias de semana, muitos dão um jeitinho de confraternizar com uma boa carne na brasa.
“O consumo de carne está ligado diretamente à renda. Visto o momento delicado em que vivem as pessoas, com redução de renda, desemprego e instabilidade política/econômica, a tendência é que a demanda não suba muito, mas sim pontualmente em regiões e dias específicos”, pontua o pesquisador da equipe de Pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepa-Esalq/USP), Thiago Bernardino de Carvalho.
De forma geral, ele explica que há uma procura pelos produtos mais baratos, ou seja, por ofertas. O varejo que conseguir reduzir margens e oferecer produtos com preços atrativos, vai atrair o consumidor. “Por isso, o produto a ser procurado será aquele que tiver um custo/benefício bom, com foco maior na carne bovina”, acrescenta.
E a preferência independe da vitória da seleção. De acordo com o especialista em empreendedorismo do Sebrae, Enio Pinto, os itens para churrasco prosseguem como protagonistas das confraternizações, mesmo com uma possível derrota. “Para o mercado e o empreendedor esta é uma oportunidade, ainda mais após a greve dos caminhoneiros. O macete é esse: pegar um grande evento como este, enxergar as dificuldades do cenário atual do País e transformar os problemas em oportunidades”, complementa.
Mas a paixão do brasileiro não se resume somente à carne bovina. Produtos típicos em churrascos e em bares, como coxinha da asa, asa e outros cortes ganham destaque. “O ‘frango a passarinho’ é uma das vedetes do momento”, comenta o diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.
O quadro atual é bem diferente do visto no ano anterior, ressalta Santin: “O movimento político-econômico com impactos sociais mais notáveis neste ano foi, naturalmente, a greve dos caminhoneiros. Reestabelecido o ambiente interno, é natural que o consumo retorne e siga em patamares normais. Em tempos de Copa do Mundo, este consumo tende a se elevar”, diz.
Um revés nesta festa é o embargo da Rússia, país sede da copa do mundo, à carne suína brasileira. Eles eram os maiores importadores do nosso produto, mas, no final do ano passado, afirmaram detectar substâncias como ractopamina e outros estimulantes para o crescimento da massa muscular dos animais em carnes bovina e suína brasileiras, resultando na suspensão das importações.
O Brasil já apresentou todos os esclarecimentos técnicos com relação à questão, tranquilizando o serviço veterinário e fitossanitário russo com relação à qualidade do produto brasileiro. “Diante da apresentação de todas as justificativas técnicas que desfazem qualquer dúvida sobre o não uso de ractopamina na carne suína produzida para o mercado russo, o fato de perdurar o embargo indica ao setor questões que fogem do técnico e alcançam as tratativas políticas”, analisa Ricardo Santin.
De acordo com ele, para que se tenha referência do peso disto para o Brasil, a Rússia foi destino de 37% das exportações brasileiras, com receitas cambiais que se aproximam dos US$ 700 milhões de dólares e embarques de quase 260 mil toneladas de produtos (dados de 2017). Na ausência de um embargo e em pleno ano de Copa do Mundo no território russo, estes números poderiam ser ainda mais expressivos.
Economia aquecida. Apesar de ser uma competição sazonal, a Copa do Mundo é ainda um dos momentos em que os pequenos negócios do varejo costumam aumentar suas vendas, reforçar o estoque ou até contratar funcionários temporários, como acontece com bares e restaurantes. “São as micro e pequenas empresas que levam o País adiante, pois geram emprego e renda, além de serem as que estão mais perto da sociedade, com quem mantém maior contato pessoal, direto. Sem dúvida, grandes eventos, como a Copa, representam excelentes oportunidades para os pequenos negócios”, afirma a diretora técnica no exercício da presidência do Sebrae, Heloisa Menezes.
“Há também uma tendência no marketing digital, anunciando nas redes sociais as ações que os estabelecimentos irão realizar durante as partidas. Espera-se inclusive um aumento de mão-de-obra temporária nos estabelecimentos para melhor atender os clientes”, destaca o presidente Executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Paulo Solmucci.