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Rio Grande do Norte exala a nobre experiência brasileira em carcinicultura

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Natália Ponse, de Natal (RN)

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Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, Itália) deste ano apontam que os crustáceos cultivados e capturados mundialmente contribuem com 14 milhões de toneladas e um valor de primeira venda de US$ 56 bilhões, tendo como predominância o camarão marinho cultivado em áreas tropicais e subtropicais, cuja performance produtiva já é de tal ordem que de cada quilo de camarão consumido no mundo, 60% é oriundo de fazendas de cultivo.

No Brasil, o berço da atividade se desenvolveu em Rio Grande do Norte. Nos anos 70, o governo Estadual criou o “Projeto Camarão” como alternativa para substituir a extração do sal – atividade tradicional do Estado, que se encontrava em franca crise. De lá para cá, muita coisa mudou. A partir do momento em que laboratórios brasileiros dominaram a reprodução e larvicultura do L. vannamei e iniciaram a distribuição comercial de pós-larvas, as fazendas em operação ou semiparalisadas adotaram o cultivo do novo camarão, obtendo índices de produtividade e rentabilidade superiores aos das espécies nativas.

A partir de meados de 1995/1996 ficou demonstrada a viabilidade comercial de sua produção no País. O Litopenaeus vannamei é, portanto, a única espécie que atualmente se cultiva no Brasil. Nos últimos cinco anos, os resultados dos trabalhos realizados no processo de sua domesticação convergiram e continuam convergindo cada vez mais para a estruturação de um sistema semi-intensivo de produção, que é próprio para as condições dos estuários brasileiros.

A produção intensiva, no entanto, já é uma realidade encontrada na Maricultura Cutia, localizada no município de Pedra Grande (RN), a 146 quilômetros de Natal. É lá que Orígenes Monte Neto, administrador da propriedade, realiza uma arte que o coloca na vanguarda da atividade no País. Com mais de 15 anos de experiência na carcinicultura, o produtor viu no surgimento da Mancha Branca a oportunidade para aplicar o sistema intensivo.

Ocorre que a doença, antes mesmo de acometer o Ceará (maior produtor nacional), afetou o Rio Grande do Norte há cerca de três anos. Por isso, a novela da Mancha Branca encarada atualmente pelas terras cearenses já foi administrada pelas produções potiguares, que convivem com o vírus. “Estamos mais ‘calejados’ que eles, já que temos um cultivo adaptado à doença. Por isso, estamos nos aproximando do que o Ceará apresenta de produção e desenvolvimento da carcinicultura”, explica Orígenes Monte Neto.

A Maricultura Cutia também utiliza um sistema que utiliza água do mar, fazendo reaproveitamento em todos os tanques. Os detalhes sobre o sistema de criação da propriedade já foram abordados na Revista feed&food em sua edição nº 123, em julho de 2017. Em uma área de cultivo em lona de cinco hectares em viveiros (com área produtiva total de 13 hectares), o desempenho mensurado em tempos passados foi alcançado e, com isso, vem a sede de ampliação. “A partir de dezembro vamos começar a construir um módulo na praia de um hectare e meio, que vai aumentar nossa produção em cerca de 30%”, celebra Neto.  

O setor vive numa ladeira ascendente de produção, ele complementa, tanto por conta do melhoramento genético, quanto por conta das escolhas que muitos produtores estão fazendo pela intensificação, além da abertura do governo e do comportamento do Estado perante o empresariado. “Estamos num mercado que está cada vez mais aberto e, com a volta do crescimento da economia começando a caminhar, vai ter mais gente querendo comer camarão, e nós vamos produzir”, finaliza.

O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC, Natal/RN), Itamar Rocha, salientou durante a abertura da Feira Nacional do Camarão (Fenacam), realizada neste ano na capital potiguar, que todo esse esforço por parte do setor produtivo precisa ser acompanhado de forma intensa pelas políticas públicas, fato que não ocorre atualmente. “Se o nosso setor, por meio de suas lideranças, não assumirem um papel proativo na defesa de seus interesses, não adianta ser detentor dos excepcionais predicados naturais, em termos de água, clima, solo, infraestrutura básica, localização geográfica estratégica em relação aos Estados Unidos e Europa, ampla disponibilidade de farelo de soja e outros”, dispara o representante do setor, fomentando a união de todos os elos para que a carcinicultura e a piscicultura brasileiras consigam navegar por águas cada vez mais longínquas e, assim, perpetuar o lugar que é de direito dos setores verde e amarelo: a liderança.