Natália Ponse, de Ribeirão Preto (SP)
O maior desejo de todo profissional do campo é que sua fazenda apresente resultados. Mais que isso, que estes resultados sejam no mínimo permanentes, para não dizer crescentes. Para tanto, é fundamental que se trabalhe em três frentes de gestão: a gestão do negócio, a gestão da informação e a gestão da sucessão (já que grande parte desse tipo de negócio é baseada em administração familiar).
Durante o Encontro dos Encontros, realizado pela Scot Consultoria (Bebedouro/SP), o diretor de Soluções da Prodap (Belo Horizonte/MG), Guilherme Reis, apontou os benefícios ao se aplicar duas dessas frentes, gestão do negócio e da informação, que estão interligadas. Conforme explica, as empresas de sucesso sabem onde estão e onde estarão no futuro. O primeiro passo, diz, é apurar o resultado, sabendo o que o negócio gera, fazendo um diagnóstico da situação, em seguida elaborando o potencial de saldo positivo que esta fazenda/organização pode alcançar. “Saber o resultado que está sendo gerado é uma das maiores dificuldades, poucas fazendas no Brasil tem um sistema que o mensure, que sabe o que está acontecendo”, pontua. Também é importante saber o impacto de cada ação tomada na fazenda. “A propriedade de sucesso sabe o porquê está sendo feita tal ação e qual resultado ela vai gerar. As ações não são tomadas de forma aleatória”, informa Reis.
No entanto, o especialista ressalta que este sistema precisa ser aplicado com qualidade. Muitas empresas buscam softwares de informação, mas não obtém resultado porque simplesmente se introduziu isso na fazenda sem estabelecer objetivos e metas, conta. “Precisamos controlar para poder gerenciar. Um grande pesquisador cita que ‘Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no que não se gerencia’. Ou seja, é impossível ter sucesso sem gerenciar”, cita.
Ponto chave para que a gestão seja efetuada com sucesso, segundo informa Reis, é que todas as pessoas no negócio estejam envolvidas. Isso inclui desde a administração até a mão de obra. “Quando a empresa não está integrada em todos os níveis, o trabalhador não sabe por que está fazendo tal serviço, ele apenas executa. Com a empresa integrada, ele sabe a relevância de seu trabalho para o sucesso do negócio e o efetua com maior primor”, destaca o especialista.
Uma boa gestão também implica em economia de tempo e dinheiro. O especialista afirma que com resultado e pessoas comprometidas, o poder de reação a pressões do mercado e/ou pressões climáticas é muito mais rápido, com ações mais ativas e proativas. “A informação é o alicerce da gestão, não existe gestão se não tiver informação”, conclui. Ressaltando a importância dos sistemas de dados, Reis ainda completa: “Tempo é dinheiro. Utilizar sistemas para processar os dados mais rapidamente vai ajudar a tomar decisões mais rápidas, daí a importância dos sistemas automatizados, que processam as informações com maior agilidade”.
Todas as orientações de Guilherme Reis tomam força maior se o negócio tiver uma liderança atuante. Ele explica: dono, diretor e até gerente da fazenda precisa fazer as coisas acontecerem, colocando em prática o sistema de gestão da informação da melhor forma possível. “Para isso é preciso ajustar processos e também pessoas, porque alguns não conseguem se adaptar ao sistema”, finaliza.
O tabu da sucessão na liderança da fazenda. Apesar de fundamental para a continuidade do sucesso do negócio, a sucessão familiar ainda é tabu nas mesas dos fazendeiros brasileiros. No entanto, a postergação desse tipo de assunto não é benéfica, já que se tratado enquanto o patriarca ainda estiver vivo abre espaço para que melhores decisões sejam tomadas. Reuniões com todos os familiares, mesmo que informais, podem ser um bom começo. A dica é do CEO da Tratto Consultoria (Bauru/SP), Daniel Pagotto.
“Toda a família deve estar em consenso para o momento em que os patriarcas, ou mesmo o sócio mais jovem, venha a falecer. O sucessor e seu plano de sucessão devem ser definidos o quanto antes, já que o pior momento para discutir esse assunto é quando estão envolvidas muitas emoções, como é o caso de um falecimento”, explica Pagotto. A dica também vale para aqueles herdeiros que não estão presentes na rotina da fazenda (como um filho que tenha cursado arquitetura, direito ou medicina, por exemplo). Estes precisam estar cientes dos principais tópicos do trabalho, da atuação do grupo familiar no mercado e nos projetos. “Esse problema pode ser resolvido com reuniões semestrais e relatórios mensais para os membros que não estão no dia a dia da fazenda. Mesmo que eles não se interessem pela atividade, um dia serão sócios do negócio e todo o funcionamento da máquina deve ficar claro para todos”, encerra Pagotto.