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Sucessão familiar deve ser ‘casamento’ entre conservadorismo e ousadia

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Wellington Torres, de casa

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Com diversas particularidades, o modo de vida no campo sempre foi atrelado ao relacionamento familiar, principalmente à ideia de ser um trabalho ou ocupação passados de pai para filho. No entanto, na contramão de simples conversas, esse processo de transição demanda atenção, para que seja, de fato, efetivo e que, assim, mantenha o legado familiar vivo ou até mesmo explore novas formas de administração.

Para entendermos as implicações e necessidades a serem seguidas por um processo de sucessão familiar, visto que o Dia dos Pais será comemorado no domingo (08), conversamos com o psicólogo e especialista em profissionalização e sucessão de empresas familiares urbanas e rurais, Rafael Homem de Carvalho. Profissional também é professor na ESPM e na Rehagro.

De acordo com Carvalho, ao longo de todo o desenvolvimento do agronegócio familiar brasileiro, o setor chegou em um ponto do qual deve-se falar, cada vez mais, sobre profissionalização. “Há, naturalmente, no ambiente familiar um desejo de continuidade da atividade rural, pois, afinal, as famílias vão aumentando e a cada geração, evidentemente, aumenta o interesse de continuidade”, explica o profissional.

“De todos os produtores rurais do Brasil, apenas 18% têm curso superior”, aponta Rafael (Foto: reprodução)

No entanto, é preciso estar ciente de que existem dois tipos de sucessão familiar: a sucessão da atividade rural, referente a quem seguirá guiando a fazenda e a sucessão do patrimônio, perante à herança. “Ambas estão conectadas, mas são distintas”, alerta Rafael.

Segundo ele, na sucessão da atividade rural é preciso pensar que aquele que ficará à cargo das funções precisa ter vocação, conhecimento, dedicação, interesse e, cada vez mais, formação. “Na outra ponta, independe da formação e qualificação, pois os que fazem parte da família vão herdar o patrimônio”.

“A sucessão do patrimônio, da terra, precisa sempre olhar para dois pontos: a preservação do patrimônio dentro da família e uma economia tributária. Neste cenário, pode-se contratar o melhor escritório de advocacia, assim como montar a melhor estrutura, mas se as pessoas que fazem parte da família não estiverem alinhadas, não funcionará”, destaca Carvalho.

Por isso, quando se fala em profissionalização, tema do qual sucessão é pertencente, olha-se os três ambientes. São eles: familiar, patrimonial e o da atividade rural, em si. “A família do agro precisa se profissionalizar quando às relações, pois acima de qualquer laço, na tratativa todos tornam-se sócios da ‘empresa’”, pontua Rafael.

Na atividade rural, o fato de ser filho(a) oferece condição para trabalhar na fazenda?

Como destaca o especialista, isso não pode ser um critério. “Deve se pensar sobre quais as competências necessárias para tocar o negócio, como ser veterinário, engenheiro agrônomo, administrador, ter conhecimento sobre o mercado do qual a propriedade pertence e afins”.

Para Rafael, o negócio exige um organograma bem descrito, com as atividades que cada integrante irá desempenhar, o que, permitirá, inclusive, o estabelecimento criterioso de remunerações. Ação é forma de reforçar que, “da porteira para dentro, é uma empresa rural”.

“Sendo uma empresa, é preciso ter organização, regras, clareza com as atividades desempenhas por cada um e os critérios para que as mesmas sejam realizadas, estabelecimento de remunerações e muita responsabilidade com os compromissos”, lista.

A sucessão

Para o processo de sucessão em si, o também professor destaca que, para realizar a ação de maneira segura e eficiente se faz necessário o raciocínio inverso. “Nós temos uma fazenda, uma empresa rural que, diferente de uma empresa urbana, de maneira instintiva, se torna extensão da própria casa dos gestores. Isso, em algum momento, precisa ser cortado e, que, ocorra uma mudança de relações”.

“A partir do momento que há entendimento que é uma empresa rural e não uma ‘fazenda’, passa-se discutir tudo que é importante para o negócio ir adiante e bem”, aconselha Rafael.

Ainda, ao se atentar ao que de fato é importante, o especialista também ressalta que, com os avanços atrelados ao desenvolvimento social e tecnológico, se adequar às novas ferramentas tem se tornado característica ímpar na hora de pensar em um processo de sucessão familiar.

“A tecnologia invadiu o mundo do agro, então, essa geração dos vinte e poucos anos têm muito a contribuir e levar tecnologia para dentro do setor”, afirma Rafael, ao aconselhar que os mais jovens sejam ouvidos.

Perante o olhar jurídico, é preciso separar a atividade do patrimônio. “É comum encontrar ambas as questões sobrepostas, por isso é interessante ‘criar’ uma pessoa jurídica, que será ‘dona’ da terra e ela estabelecerá um contrato de parceria com a atividade rural”. “Nessa ‘pessoa’, entrarão todos os membros da família com cotas de participação na empresa. Isso, além de preservar o patrimônio, o potencializa”, aconselha Carvalho.

Ação realizada em consenso

Ao contrário do que muitos possam imaginar, um processo de sucessão não necessariamente está atrelado à perda do gestor anterior, muito pelo contrário, ele pode ser conduzido entre a anterior e futura administração da empresa.

“Iniciar o trabalho entre as partes, num cenário familiar, possibilita que o pai possa dar as coordenadas para o futuro da produção, garantindo uma continuidade harmoniosa e organizada”, informa Carvalho.

No entanto, nessa união, é importante preservar a história do negócio. “Olhar para tudo que foi construído, vislumbrar o passado é importante. Olhar para frente permite desenhar estratégias, mas olhar para trás faz com que aprenda com as experiências já vividas”, finaliza Carvalho, ao destacar a sucessão familiar como o casamento entre conservadorismo e ousadia.