Natália Ponse, da redação
natalia@ciasullieditores.com.br
Por definição, uma startup é um modelo de negócio repetível e escalável. O objetivo é que ela cresça em receita, mas seus custos devem ter evolução lenta, acumulando lucros e gerando cada vez mais riqueza. Tudo começou entre 1996 e 2001, na chamada “bolha da internet”. Apesar de usado nos EUA há várias décadas, só na bolha o termo “startup” começou a ser utilizado por aqui. Significava um grupo de pessoas trabalhando com uma ideia diferente que, aparentemente, poderia fazer dinheiro. Além disso, a palavra sempre foi sinônimo de iniciar uma empresa e colocá-la em funcionamento, e por que não inseri-las no maior movimento econômico do País?.
A diversidade no ramo de atuação é característica das startups do agribusiness. Enquanto algumas fazem intermediação de negócios entre produtor e consumidor, outras desenvolvem tecnologias adaptadas para serem usadas no campo ou na indústria. Em todos os casos, o objetivo é o mesmo: aplicar conhecimento que evolua para resultados consistentes.
O futuro do País está na educação e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) sabe disso. Entre 2015 e 2016, por meio da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV, Jaboticabal/SP), foi criada a Rede InovaJab, com a meta de incentivar e apoiar a criação de um habitat “inovativo” na universidade. Em 2017 foi realizado o “I Simpósio de Inovação e Internacionalização” com apoio da Rede e dos programas de pós-graduação.
Assim, a marca InovaJab tornou-se o nome da incubadora (estrutura que acelera os projetos idealizados), após passar por um upgrade na logo e identidade visual. “Apesar de ter sido criada somente em 2015, o campus da Unesp de Jaboticabal (Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – FCAV) sempre foi referência nacional e internacional em indicadores de pesquisa e desenvolvimento em ciências agrárias, envolvendo agronomia, veterinária e zootecnia. Nos seus 50 anos de existência a FCAV criou eventos de referência para empreendedorismo e parceria Universidade-Empresa no agronegócio”, conta um dos colaboradores do projeto, Diego Silva Siqueira.
Na prática a incubadora de “terceira geração” irá oferecer apoio jurídico, gerencial, administrativo e mercadológico. Além de infraestrutura física e capacitação, a ferramenta irá auxiliar na construção da rede de contatos e parcerias. “A montagem da estrutura física, parte jurídica, empresarial e de presença digital estão em andamento e avançando com velocidade. A parceria com a prefeitura também caminha em ritmo acelerado. Apoiada na Lei da Inovação, federal e paulista, a incubadora irá atuar em alguns segmentos do agronegócio, dentre eles: meio-ambiente e biotecnologia. Os produtos gerados pelos incubados deverão atender as demandas em bioenergia, biotecnologia, automação, equipamentos e processos agrícolas, veterinários e zootécnicos”, salienta Siqueira.
A incubadora e seus incubados poderão contar com apoio dos mais de 30 laboratórios e os mais de 40 grupos de pesquisa nas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). A expectativa, de acordo com Diego Siqueira, é melhorar os indicadores da Lei do Bem no setor agro, que desde 2006 concede benefícios para empresas que investem em atividades de P&D. Ele ainda salienta a importância da rede de contatos para este projeto: “Um dos grandes diferenciais do Vale do Silício na Califórnia–EUA, berço de empresas como Google, Facebook, YouTube, Linkedin e Netflix, é a rede de contatos e o fluxo de informações de forma desburocratizada e dinâmica. Esperamos recriar esse mesmo ambiente, adaptando para as necessidades do agronegócio brasileiro”, compartilha.
Afinal, a ação tem como meta dar suporte para os modelos de negócio propostos. Os incubados serão incentivados e capacitados para captação de verba junto às agências de fomento em modalidades de financiamento destinadas ao empreendedorismo e empresas, diz Siqueira: “A proposta é estimular e apoiar atividades empreendedoras. É uma filosofia da nova gestão da Unesp, seguindo tendências mundiais, estimular a constante criação de projetos parceria universidade-empresa, promovendo captação de recursos extra orçamentários, formação inovadora dos novos quadros da instituição e parceria com o setor público”.
O fomento às ações parte também do setor privado. A BASF (São Paulo/SP), empresa química mundial, desenvolveu o programa AgroStart em parceria com a ACE (aceleradora de startups), que contempla todo o processo necessário para que uma iniciativa possa oferecer o seu produto ao mercado agrícola em um prazo de seis meses. “Nós identificamos na inovação aberta uma oportunidade para encontrarmos respostas aos desafios presentes no campo e entendemos que o processo de cocriação é uma das mais ricas fontes de diferenciação para as empresas”, salienta o gerente de Marketing Digital da BASF para América Latina, Almir Araújo.
No programa os participantes contam com acesso ao mercado, provido pela companhia; mentorias com especialistas de mercado e da BASF; metodologia de aceleração; escritórios em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR) e Goiás (GO); além de fundos de investimento. Em menos de um ano, comenta Araújo, foram mais de 150 inscrições de 12 países da América Latina, das quais cinco startups foram escolhidas. Aqueles que ficaram de fora não precisam se entristecer: mesmo não sendo selecionados para aceleração, poderão receber orientações por meio de feedbacks para realizar melhorias em seu produto e se preparar para um novo processo seletivo e uma futura aceleração.
Para Araújo, há uma demanda por startups no agronegócio e o investimento em tecnologia para o campo não é novidade. “O setor é uma fábrica a céu aberto e, nos últimos cinco anos, a expansão deste modelo de negócio foi de 70% no País, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups)”, diz E adiciona que as soluções também podem ir além da fronteira: “O empreendedor tem a chance inclusive de exportar a sua solução tecnológica para outros países com o programa AgroStart”, reforça o gerente de Marketing Digital.
Com nome parecido, mas percorrendo outro viés, o Agrismart SPRO é a aposta da empresa de consultoria Spro It Solutions (Curitiba/PR). A proposta tem raiz no cerne da tecnologia atual: facilitar o armazenamento, cruzamento e análise de dados, conectando e integrando toda a cadeia produtiva do agronegócio. Com base no conceito de Internet das Coisas (IoT), Big Data e dados em nuvem, a ferramenta possibilita que as informações cheguem em tempo real, auxiliando desde o processo de plantio de grãos à avicultura, suinocultura e piscicultura.
No caso da produção avícola, por exemplo, a gestão é controlada diariamente em lotes. Por meio de tecnologias de sensoriamento remoto, é possível monitorar, em tempo real, dados relacionados a consumo animal, ambiência, quantidade de CO2, peso diário, conversão alimentar e índices de mortalidade. Essas informações são enviadas para uma torre de controle, onde, em casos de desvio de processo, são disparados alertas para a cooperativa/agroindústria para resolução rápida de problemas e/ou desvios na produção.
Os dados, captados em tempo real, geram ganhos em eficiência operacional e de produtividade para ambos, diminuindo impactos ambientais e tornando os processos ainda mais sustentáveis. “Em 2017, a Spro It Solutions iniciou o desenvolvimento de um projeto piloto em duas granjas do Paraná, onde em breve será possível mensurar, com números, ganhos de performance e de otimização de processos”, explica o presidente Executivo da consultoria, Almir Meinerz.
Na opinião dele, as tecnologias de mapeamento fazem do produtor um gestor da sua granja e de sua propriedade, possibilitando a ele uma visão ampla de seu negócio. A informação coletada e gerada pelas mais diversas tecnologias irão reduzir ou até mesmo eliminar a dependência de observações visuais ou intuição dos produtores ou dos demais atores do processo para tomadas de decisão, diz. Olhando mais a frente, Meinerz enxerga ser indispensável que produtores e empresas do setor percebam que a transformação digital se tornou indispensável para a ampliação dos negócios, pois reduz custos, melhora a produtividade e integra os parceiros da rede de fornecimento.
Com informações diferenciadas e em tempo real, as soluções representam ganhos competitivos, com aumento de performance, análises preditivas e assertividade em tomadas de decisão. “Aprimorar a experiência digital do cliente e do usuário final aumenta a fidelidade, os ganhos e a retenção. É neste sentido que a Spro It Solutions busca levar ao produtor sistemas que proporcionam o máximo de informações já pré-configuradas para tomadas de decisão, sem a necessidade de bagagem técnica. Ou seja, colocamos a tecnologia a favor do produtor”, finaliza o dirigente.
Seja no campo privado ou público, muitas são as redes de fomento às startups. O mercado é um grande campo em que são semeadas ideias contundentes e pensadas cuidadosamente para atender às necessidades da cadeia produtiva, levando em consideração lucro e produtividade em tempo razoável. Investimento que resulta na fórmula perfeita para o sucesso.