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AVICULTURA

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Resiliente, avicultura exige atenção especial em relação ao clima

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FOTO: REPRODUÇÃO

Gabriela Salazar, de casa

gabriela@ciasullieditores.com.br

Geada, estiagem e mudanças bruscas de temperatura são apenas alguns dos intempéries que dificultam o trabalho dos avicultores no Brasil. Neste cenário, além do manejo adequado de ambiência, os produtores também precisam estar atentos à nutrição animal, isso porque, boa parte das culturas utilizadas no desenvolvimento de rações para as aves acabam sendo afetadas.

Ainda assim, a avicultura brasileira se mostra resiliente e se destaca dentre a produção mundial. Considerando os sete primeiros meses de 2021, último balanço divulgado pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as vendas de carne de frango alcançaram 2.668 milhões de toneladas, número 7,98% superior ao embarcado em 2020, com 2,471 milhões de toneladas.

Para manter cenário de alta, mesmo diante das adversidades climáticas e econômicas, avicultores precisam se atentar ao bem-estar animal. Neste dia 28 de agosto, data em que se celebra o Dia do Avicultor, a feed&food conversou com o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Paulo Abreu, que aborda manejo adequado das aves.

Necessidades especiais para cada fase

Em relação ao impacto das mudanças de temperatura e as necessidades das aves, Paulo Abreu explica que os animais homeotérmicos, ou seja, que mantém a temperatura corporal constante. O profissional salienta que é importante observar que as temperaturas exigidas pelas aves correspondem entre 32 a 35oC na primeira semana de vida, com redução de 3oC por semana até a quinta semana, quando atingem em torno de 20 a 23oC.

“Muitas vezes a temperatura ambiente não se encontra dentro dessa zona de conforto térmico das aves, necessitando de equipamentos que proporcionem condições ideais de temperatura de forma que elas possam expressar todo o potencial genético para a produção de carne”, enfatiza.

Por isso, o especialista destaca a importância dos produtores estarem atentos às informações dos sistemas de monitoramento do clima, fornecidas pelas Estações Climatológicas, sendo necessário averiguar também se as condições das previsões climáticas estarão compatíveis com a idade do lote.

“Aves adultas são susceptíveis ao calor, podendo sofrer com o estresse calórico e as aves jovens, o frio ou baixas temperaturas. [A situação das aves jovens ocorre] porque, ao nascerem, não possuem o sistema termorregulador desenvolvido. O desenvolvimento do sistema termorregulador vai ocorrer por volta de 28 dias de idade das aves, coincidindo com a troca da penugem por penas. Dessa forma se a temperatura ambiente estiver abaixo da temperatura de conforto da ave, em função de sua idade é necessário que o avicultor providencie um sistema de aquecimento do ar. Qualquer falha de manejo principalmente nos primeiros dias de vida das aves poderá afetar o desempenho final do lote”, orienta o profissional.

Impactos das altas temperaturas

Como mencionado pelo especialista, cada fase de vida da ave exige um cuidado especifico em relação à ambiência. No caso das aves adultas, Paulo explica que as temperaturas elevadas, acima de sua condição conforto, se tornam fatores estressantes, podendo as mesmas diminuir o consumo de ração como forma de reduzir a produção de calor metabólico e aumentar o consumo de água.

“Nessa condição, entram em ação mecanismos de defesa física contra o calor, como a vasodilatação e a ofegação. Com a redução do consumo de ração o desempenho produtivo estará comprometido. Dificilmente a ave terá um ganho compensatório. Caso a temperatura ambiente se eleve acima de sua temperatura crítica superior (temperatura em que a ave acionou todos os seus mecanismos de controle da temperatura corporal) por mais que esses mecanismos funcionem, não conseguem obter o resfriamento necessário para a manutenção do equilíbrio homeotérmico e a temperatura corporal aumenta cada vez mais”, comenta.

Se a temperatura ambiente continuar aumentando, o profissional avisa que a ave não conseguirá manter a sua temperatura corporal constante, e, como consequência, ela atingirá a temperatura letal, chegando a morrer por hipertermia.

Impactos das baixas temperaturas

Assim como a elevação da temperatura, as quedas também podem impactar o bem-estar das aves, e, consequentemente, o seu desempenho. Paulo relata que, nessa situação, as primeiras semanas de vida das aves são mais afetadas. “Temperaturas ambientes abaixo da temperatura crítica inferior (abaixo desta o animal aciona seus mecanismos termorregulatórios para incrementar a produção e a retenção de calor corporal, compensando a perda de calor para o ambiente, que se encontra frio) a ave aumenta a taxa metabólica para a manutenção do equilíbrio homeotérmico”, pontua.

Neste cenário, o profissional ressalta que se a temperatura ambiente continuar a diminuir a ave não conseguirá mais balancear a sua perda de calor para o ambiente e a temperatura corporal começará a declinar rapidamente, acelerando o processo de resfriamento. Se o processo continua por muito tempo ou se nenhuma providência é tomada, o nível letal é atingido e a ave morre por hipotermia.

Como mitigar os impactos do clima

Diante das necessidades frente às temperaturas, o profissional também explica que para garantir as condições ideais de conforto térmico da criação das aves, alguns equipamentos devem ser instalados nos aviários, sendo que os principais correspondem aos sistemas de aquecimento, sejam eles a gás, a lenha, elétricos ou pellets. Além de sistemas de ventilação positiva ou negativa (ventiladores ou exaustores) e sistemas de resfriamento do ar (placas evaporativas e/ou nebulizadores).

Nutrição x ambiência

Além dos níveis de temperatura do aviário, a mudança climática também atinge outro ponto importante relacionado à produção avícola: a nutrição. Isso ocorre, pois os principais grãos utilizados na nutrição desta espécie (soja e milho) acabam sendo impactados pelo clima.

Sobre o tema, a Embrapa Suínos e Aves em conjunto com a Embrapa Trigo divulgaram pesquisas que pontuam a utilização de cereais de inverno, como trigo, aveia, centeio, cevada e triticale, como alternativas para substituir o milho na formulação das rações.

“A escassez de milho frente ao crescente aumento na produção de proteína animal e a ociosidade de áreas produtivas no inverno foram as principais motivadoras dos estudos, que avaliam a viabilidade econômica e nutricional no uso de cereais de inverno na composição de rações, além da caracterização de cultivares mais adequadas à alimentação de suínos e aves”, menciona a Empresa em artigo publicado em outubro último.

A feed&food homenageia neste dia o trabalho de todos os avicultores brasileiros que atuam diariamente para tornar o setor uma referência mundial (Arte: f&f)