Profissional fala sobre erros mais comuns e dá dicas para evitar excesso de temperatura nas granjas
Gabriela Salazar, de casa
gabriela@ciasullieditores.com.br
A notícia de que 30 mil aves haviam morrido na região de Bastos (SP) devido ao calor intenso registrado no Estado de São Paulo foi repercutida por diversos veículos de comunicação. A onda de calor elevou a temperatura aos 40ºC, algo atípico para o mês de outubro. A perda, além de ser um grande prejuízo aos produtores afetados, também impacta a imagem do setor, como pontua o médico-veterinário e professor de avicultura e ornitopatologia da Universidade de Vassouras (RJ), Dr. Ramon Loureiro Pimenta: “Existe uma questão muito mais profunda nesse sentido, hoje a agropecuária é um campo que move nosso País e é atacada constantemente, principalmente no que refere a produção animal. Isso é inaceitável”.
Para que notícias como essa não se repitam, o médico-veterinário e também consultor, salienta a importância da tomada de consciência por parte dos próprios produtores rurais. “Eles devem ser os primeiros a lutarem e investirem em bem-estar animal, pois serão responsáveis se o mercado deixar de ser rentável como é. Quando deixam de investir em um galpão, eles estão dando um tiro no próprio pé. Naquele curto período, ele tem aquele prejuízo da perda de animais, mas mais a frente terá a imagem deles manchada, inclusive de todo setor”, enfatiza.
Na visão do profissional, tal situação, apesar de atípica, pode ser evitada. “Geralmente, os galpões são construídos de acordo com a temperatura ambiente e também de acordo com as condições topográficas conforme a região onde estão instalados. Na região Sul, por exemplo, os galpões têm uma estrutura muito mais eficiente para aquecer do que para resfriar, já no Centro-Oeste ou Sudeste, os galpões têm uma estrutura mais desenvolvida para resfriamento”.
Por ser um País tropical, o Brasil enfrenta oscilações de temperatura, mas, é de um modo geral, predominantemente quente, diante disto, muitos produtores, na hora de equiparem suas granjas para adequar à ambiência das aves, acabam optando por métodos que “atendem a demanda daquela região”.
Essa conduta, segundo Ramon, é bastante arriscada e pode levar a consequências ao bem-estar animal: “Quando falamos em ventilação e controle de temperatura, esse conceito de que em determinadas regiões devem ser mais preparados para aquecer ou resfriar é errado. Os galpões devem estar preparados para enfrentar os dois tipos de situação, exatamente pelos picos de temperatura, sejam eles de frio ou calor”.
Sobre o ocorrido em Bastos (SP), o profissional salienta que outras regiões do País também já passaram por mortandade das aves devido a problemas no manejo, devido principalmente as são oscilações na rede elétrica, que provocam a queda de energia, como boa parte das granjas não possui gerador, a mudança de temperatura brusca provoca a morte das aves.
“Eu não sei qual é a estrutura que o produtor utiliza em Bastos (SP), mas pelo o que conheço de estudos da região, se trata de um centro antigo,com infra-estrutura também antiga e com uma produção intensiva, de aves em gaiolas, na sua grande maioria”.
Além dos aspectos meteorológicos, o professor explica que picos de temperatura são agravados devido à condição biológica das próprias aves. “Quando falamos em calor nós não estamos falando apenas do ambiente, existe o calor que está sendo gerado pelo metabolismo dos próprios animais, pela própria fermentação que acontece na cama, já que a cama recebe excrementos e recebe microorganismo dos animais produzindo calor e amônia”.
Em sua experiência profissional, o consultor conta já ter passado por regiões brasileiras que são considerados “extremos” de temperatura: Rio de Janeiro e Santa Catarina, e, ainda assim, não observou casos parecidos com os noticiados recentemente. Além da experiência nacional, Ramon relata já ter atuado em uma empresa de genética avícola, que mantinha suas granjas núcleos em regiões desérticas, cenário de extremos meteorológicos. “Não existe um argumento que seja plausível para defender a perda de animais, o que existe é falta de investimento em infra-estrutura”
Para investir de maneira apropriada no resfriamento dos galpões, o profissional pontua algumas dicas. Confira:
– Pressão positiva;
Os galpões mais convencionais, chamados de pressão positiva, possuem o manejo de temperatura feito por cortinas e ventiladores. Normalmente são galpões mais baratos, mas mais difíceis de serem operados, já que precisam de uma mão de obra muito grande para deixá-lo funcionando perfeitamente.
Algumas estratégias podem potencializar a ação de resfriamento nestes espaços, como a nebulização, que aumenta a umidade e diminui a temperatura; além da adoção de telhas do tipo sanduíche, que possuem um isolamento térmico ou mesmo a utilização de telhas de cores claras; além de lonas e cortinas brancas do lado externo do galpão.
– Pressão negativa;
Mais tecnológico esse tipo de galpão possui uma grande variedade de usos, como por exemplo, os darkhouses; galpões em ventilação em túnel e ventilação cruzada. Geralmente possuem um amplo sistema de automatização, incluindo exaustão, por meio de placas evaporativas que também umidificam o ar e resfriam o ar.
Entretanto, esse modelo depende de energia elétrica e muitas propriedades ainda não possuem um gerador na granja. Sendo essencial a adoção para que outros problemas não decorram desta escolha.
Este modelo também possuí um resultado melhor para frango de corte no ganho de peso, índice de conversão alimentar, mas acabam sendo estruturas mais caras.
– Características da área da granja
Outros fatores devem ser levados em consideração na hora de se construir uma granja, como, por exemplo, o sentido leste oeste para fazer com que o sol passe por cima do galpão e não penetre pelas suas laterais; colocar algumas cortinas fixas como quebra ventos ajuda a fazer sombra no galpão; árvores ao redor do galpão ajudam a fazer sombra e diminuem a velocidade do vento.