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Possibel burger: o mal passado resistirá

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Produções em laboratório não são vistas como risco ao consumo da proteína animal

Gabriela Salazar, da redação

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A cultura gourmet fez o consumo de hambúrguer no Brasil ganhar novos ares. Hoje, muitos dos consumidores optam por frequentar hamburguerias que apresentem uma vasta opção de cortes e blends. Com essa demanda aquecida, o número de estabelecimentos oferecendo esse tipo de serviço cresceu 575% em dez anos, somente em São Paulo, como mostram os dados publicados pelo Instituto de Gastronomia (IGA).

A tendência, de acordo com especialistas do Sebrae, tende a se manter estável. Passado o “boom”, o que vem agora é a necessidade pelo novo. A startup norte-americana Impossible Foods, conhecida por suas comidas com gosto e aparência de carne, é uma das que vem se sobressaindo no mercado vegetariano – uma cultura que tem se tornado a cada dia mais comum, mas será que isso reduzirá o consumo da proteína animal em nível mundial?

Atualmente, é pouco provável que ao folhear um cardápio você não se depare com a opção vegetariana. Recheados com o hambúrguer de soja, esses pratos acabam fazendo sucesso entre os adeptos ao vegetarianismo, mas o que parece ser uma mudança nos hábitos de consumo vem chamando a atenção por outros motivos: a redução do consumo da proteína de origem animal.

Eles não vegetarianos e nem veganos – apenas carnívoros em adaptação. Com esse nicho no mercado, ações como a “segunda sem carne” tem se tornado mais frequente. “Há no mundo um crescimento muito grande de pessoas buscando um dia da semana sem carne, uma refeição sem carne. Um dado apresentado em um encontro que estive no Canadá é de que 25% dos europeus afirmam que querem reduzir o consumo, não que eles queiram ser vegetarianos”, explica a mestre e doutoranda em desenvolvimento econômico pela Universidade de Campinas (Unicamp), Mariane Crespolini.

A profissional, que hoje atua como Diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), falou durante uma de suas últimas palestras antes de assumir o posto sobre a tendência e citou grandes indústrias da carne que fomentam pesquisas para o desenvolvimento da chamada carne de laboratório.

Produzida em laboratório. O hambúrguer produzido inteiramente em laboratório, ainda que de alto custo, parece estar recebendo grandes investimentos e em poucos anos pode se tornar uma alternativa, quase equiparável, à carne de origem animal. Produzida por um holandês, a novidade se tornou notória por utilizar apenas células-troncos. Mas seria essa uma ameaça à pecuária que conhecemos hoje?

A crescente desta demanda, segundo Crespolini, está relacionada a imagem que a pecuária ainda possui para muitos dos consumidores: carne não tão saudável e produção pouco sustentável – estereótipos que podem ser facilmente quebrados, de acordo com a profissional. “É possível produzir carne com sustentabilidade, nós precisamos nos apropriar do que nós fazemos bem. Se bem manejado, com boas práticas ambientais, com bem-estar animal, nossa produção de bovinos pode absorver mais gases de efeito estufa do que o boi emite. Nós não precisamos derrubar uma árvore para fazer isso, é possível ter uma produção sustentável ambientalmente, que gera emprego e renda”, salienta a especialista, que complementa: “Nós precisamos fazer um marketing pró-ativo, o que a indústria da carne tem feito é se defendido. A gente precisa mudar isso. É possível ter uma produção sustentável ambientalmente, que gere emprego e renda”.

Não é concorrência. Marcelo Whately, iniciou a carreira como zootecnista e há cinco anos migrou de uma ponta da cadeia para a outra. Hoje, o profissional é proprietário do Vila Beef, uma das grandes grifes de carnes especiais do País. Além do fornecimento das carnes, a marca também oferece cursos, como o de preparação de hambúrgueres. De acordo com o profissional, o hábito do consumidor médio ainda não mudou e a predominância pelos cortes tradicionais ainda é grande.

“A quantidade de hamburguerias cresce, porque a demanda está crescendo. As pessoas estão cada vez mais buscando opções acessíveis, não só para comer fora, mas também para comer na própria casa, com a família e amigos”, complementa o profissional.

No curso, além da carne bovina, também são preparados hamburguers de carne suína e de cordeiro, Whately estuda a possibilidade de aderir ao curso os vegetais. “Nunca perguntaram para nós sobre o hambúrguer vegetal, mas é uma ideia colocar no curso”, afirma.

Para o especialista, apesar de ser um mercado em crescimento, ele não oferece “risco” ao hambúrguer tradicional. “O consumo do hambúrguer de proteína vegetal vai aumentar muito, as pessoas estão demandando, nós vemos as empresas norte-americanas, como a Impossible Foods, crescendo muito, abrindo o capital. Tem mercado e o consumo vai aumentar, mas esse crescimento é de uma base quase zero, o percentual é alto, mas em volume infinitamente menor que o hambúrguer de carne bovina. Vai continuar assim, com os dois mercados crescendo”, frisa.