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Pecuaristas realizam esforços pela verticalização da produção na Amazônia

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FOTO: REPRODUÇÃO

Natália Ponse, da redação

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Pesquisando as palavras “pecuária+Amazônia”, os primeiros resultados mostram notícias desastrosas, apontando a atividade como a principal vilã do desmatamento. O rebanho bovino na Amazônia Legal (uma área que engloba nove Estados do Brasil pertencentes à Bacia Amazônica e à área de ocorrência das vegetações amazônicas) saltou de 37 milhões de cabeças em 1995, o que era equivalente a 23% do total nacional, para 85 milhões em 2016 – cerca de 40%.

O que não se lê logo na primeira página de pesquisa é o esforço do setor em mitigar esse problema, verticalizando a produção. “A FAO adota uma abordagem de paisagem para a gestão e recuperação de áreas degradadas, sejam elas para resgatar a capacidade de suportar o uso pastoril, ou para recuperar a vegetação nativa”, destaca o oficial da organização, Marcello Broggio.

De acordo com a World Wide Fund for Nature (WWF, Brasília/DF), além das áreas protegidas, outra forma de conter o desmatamento e, consequentemente as mudanças climáticas, é desenvolver atividades econômicas sustentáveis nas florestas, de modo a fortalecer as comunidades locais e aproveitar os recursos disponíveis nas regiões. O apoio a projetos de manejo florestal comunitário e empresarial, manejo de pesca, iniciativas de capacitação, educação e conscientização ambiental e ações de comunicação e políticas públicas são vitais para levar o Brasil ao futuro da produção 100% sustentável.

A inserção do País como o maior exportador global de carne bovina nos últimos anos levou a um aumento do uso de tecnologia, permitindo produzir mais em menos área. De acordo com o diretor Executivo do Comitê Estadual da Estratégia PCI (Produzir, Conservar e Incluir), Fernando Sampaio, a incorporação de tecnologia na produção pecuária incrementou a produtividade de tal forma no Brasil, nos últimos anos, que a área de pastagens diminuiu, ao mesmo tempo em que o rebanho, a produção e a exportação foram fortemente impulsionados pelo mercado.

“A participação do Brasil no mercado internacional, como o maior player global de carne bovina, fez com que o mercado acelerasse o incremento de eficiência na produção, o que resulta não apenas em menor pressão pela abertura de novas áreas, como também no menor uso de recursos naturais e em queda nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Em 20 anos, o Brasil reduziu em 29% as emissões de CO2 por kg de carne produzida, o melhor índice entre os grandes países produtores, segundo estudo da Universidade de São Paulo (USP)”, destaca o especialista.

Entre os vários esforços contínuos de quem já percebeu essa estrada sem volta, está uma ação crescente na região da pecuária amazônica: a adubação de pastagens. O tema chegou até o portal feed&food pelo consultor Edemir Alves Leal, de 41 anos. Natural do Estado do Pará, há 10 anos reside em Marabá, na região Sul do Estado.

“Há seis anos enxerguei o mercado de adubação de pastagem, percebi que com o entrave severo na legislação ambiental o pecuarista não poderia mais desmatar para formação de novas pastagens e iria precisar criar mais no mesmo espaço, o que poderia ser feito por meio da intensificação com o uso do pastejo rotacionado e com a adubação dessas pastagens”, afirma o concluinte do curso de pós- graduação em manejo de pastagem pelas Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu, Uberaba/MG).

De acordo com Leal, um dos grandes desafios dessa frente de trabalho é conscientizar o pecuarista da importância da adubação de pastagens e seus benefícios, como a alta produção de massa verde por área com um capim mais nutrido, convertendo essa qualidade em carne. “Hoje adubação de pastagem na Amazônia já é uma realidade. Quando o profissional sugeria para o pecuarista fazer uma análise de solo o mesmo não aceitava, mas esse quadro veio mudando ao longo do tempo. Em 2016 realizei aproximadamente umas 70 análises de solo, sendo que em 2017 fechamos com aproximadamente umas 430 análise realizadas”, comemora. 

A lei agora é criar mais, no mesmo espaço. Isso sem desmatar, devido à legislação ambiental na região amazônica que permite o uso de 20% da propriedade, destinando os outros 80% à preservação. “Uma das peculiaridades é que o sistema de criação predominante naquela região é o extensivo. É interessante trabalhar por meio do rotacionado para um melhor aproveitamento da forragem produzida”, indica o consultor.

O trabalho do profissional chega ao seu segundo ano, e os resultados são “fantásticos”, nas palavras de Leal, depois que foi iniciada a adubação da pastagem rotacionada. Uma das propriedades que é utilizada como exemplo quando ele apresenta o tema é a Fazenda Estrela D’Alva, situada no município de Abel Figueiredo, na divisa entre o Pará e o Maranhão.

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O pasto que predomina neste projeto são os do gênero Panicun, sendo como principal cultivar o capim Mombaça (Foto: divulgação)

Um dos principais números que melhoraram envolve a taxa de lotação (que aumentou) e, consequentemente, mais @ produzida por hectare/ano, saindo de uma taxa de lotação anual de 1U.A/ha  para 2,5 U.A ano. Tudo isso devido a intensificação por meio do sistema rotacionado e adubação das pastagens. “Pra mim não era surpresa, pois eu já conhecia os benefícios. Meu trabalho maior foi treinar os funcionários na rotina de adubação, cerca elétrica, pasto rotacionado e controle de pragas”, afirma o proprietário da Estrela D’Alva, Rubens Rodrigues.

Outro exemplo é a Fazenda Cristalina, em Rondon do Pará (PA), a 523 quilômetros da capital do Estado, onde o trabalho é mais recente e ainda não existem tantos resultados fechados. Mas, de acordo com o proprietário, Antonio Lopes de Angelo, de 66 anos, o manejo rotacionado no período das chuvas aumentou o suporte de 1UA/ha para 5UA/ha, com a adubação. “Recomendo para todos os produtores rurais porque precisamos produzir muito em pequenas áreas para mantermos o primeiro lugar em carnes e seus derivados, além de proporcionar uma vida melhor no campo para nossos cooperadores e funcionários”, complementa.

A correção do solo e a adubação fornece em curto espaço de tempo um volume alimentar grande e consequentemente a capacidade de suporte aumenta muito – e os pecuaristas estão começando a perceber isso. “O que está sendo feito é justamente a recuperação das pastagens com uso de herbicidas para controle das ervas daninhas e a adubação, responsável pela alta produção de massa verde e, consequentemente, mais @ produzida”, reforça Leal.

O brasileiro é conhecido por seu senso de comunidade, o que não é diferente no meio rural. Rubens Rodrigues, por exemplo, afirma que realiza dias de campo para os empresários rurais de sua região. “É um sistema que vem crescendo bastante. O plantio de soja está ficando intenso, então, se estão investindo pesado na agricultura, por que não na pecuária? Não dá pra ter uma atividade arcaica e querer resultado. Por isso estou procurando aprimorar o que eu já tenho, e meu plano é adubar 100% da minha área”, finaliza o pecuarista.