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Ovos livres de gaiolas: tendência global ou nicho de mercado?

feedfood

Luma Bonvino, da redação

luma@ciasullieditores.com.br

O setor produtivo – especialmente o de postura – vem recebendo variadas manchetes que entoam indústrias da alimentação se comprometendo a comprar ovos livres de gaiolas até os anos de 2020 e 2025. McDonald’sBurger KingCargillGiraffasIMC, BFFC, Subway e Unileverpor exemplo, foram algumas das companhias que se posicionaram exaltando, essencialmente, a preocupação com o bem-estar animal. A frente de mudança vem ao encontro de um mercado que configurou superávit em consumo, mas quedas nas exportações em 2016. Conforme números da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA, São Paulo/SP), durante balanço do último ano, o segmento atingiu 39,1 bilhões de unidades produzidas, já as exportações retraíram 45% em relação ao ano anterior. No topo da lista de compradores, destaque para Emirados Árabes, Japão e Arábia. Em 2017, a expectativa é que o setor registre uma elevação de 2% na produção de ovos e de até 3% nas exportações.

O movimento do mercado internacional, ao mesmo tempo em que o presidente da ABPA, Francisco Turra, divulgou em última coletiva que faz parte dos objetivos “abrir ainda mais caminhos para o ovo brasileiro” faz indagar se isso é parte de um processo de transformação produtivo ou compõe um nicho de mercado. A dúvida, transcende aspectos do mercado e chega ao consumidor, como publicado na fan page da Revista feed&ood.

Em busca de esclarecimentos, a equipe de reportagem feed&food entrou em contato com as principais entidades envolvidas no assunto. A Humane Society International (HSI) trabalha junto com a indústria de alimentos, incluindo produtores de ovos no Brasil, na adoção e na implementação de suas políticas de ovos livres de gaiolas. “Nossos especialistas trabalham com as empresas ao longo de todo o processo para ajudar a garantir uma transição bem-sucedida para uma cadeia de fornecimento. A HSI acredita que uma transição bem-sucedida envolve uma colaboração com todos os setores, razão pela qual também trabalhamos com associações de produtores, fabricantes de equipamentos, certificadores, instituições governamentais e outros especialistas”, informou a instituição que, realizando esse trabalho, anuncia aumento na demanda e acompanhamento dos produtores de ovos: “Alguns dos maiores avicultores no País já começam a adotar sistemas livres de gaiolas”, diz.

O presidente da ABPA, no entanto, sinaliza que em primeiro é preciso entender que isto é uma nova demanda de nicho de mercado. “Aqueles que compreenderem como viável produzir para este nicho demandante, investirão neste sistema produtivo.  Obviamente que uma organização com maior custo de produção implica em um produto mais caro.  O consumidor que desejar este tipo de alimento, precisará de um investimento maior de compra”, reflete e completa: “Queremos ressaltar:  a questão do bem-estar animal é uma preocupação constante de todos os nichos, seja do sistema tradicional ou do sistema caipira.  Em ambos, temos acompanhado este tema com total atenção, criando protocolos que visem ao bem-estar das aves. Neste sentido, precisamos lembrar que já existem empresas especializadas neste nicho, que atuam com estruturas e condições condizentes com a demanda.  As companhias que almejarem atuar também neste segmento farão as adaptações necessárias dentro do que o respectivo cliente exigir – obviamente, obedecendo à todas as legislações federais, estaduais e municipais referentes à produção”, descreve Turra.

Nesse quesito, ele esclarece ainda questões relativas à competitividade de mercado. “Tudo depende do nicho em que a empresa deseja atuar.  Veja o caso do mercado de frangos. Temos demanda para aves criadas no sistema caipira, no sistema orgânico e no sistema padrão, em galpões (em nenhum deles, com uso de gaiolas). A decisão de compra é do cliente, de acordo com o valor de desejar dispender para adquirir o produto”, comenta o executivo reforçando que não se trata de item competitivo e, sim, de opção de compra.

A demanda dos consumidores no Brasil transformou o item dos ovos livres de gaiolas em uma importante questão de responsabilidade social corporativa no País, relaciona a HSI, por isso, as empresas entendem que tratar melhor os animais é bom para os negócios, assim a implementação de níveis mais elevados de bem-estar animal também auxiliam as empresas a alcançarem as expectativas dos consumidores.

Essa fidelidade que envolve a criação dos animais com o atendimento da expectativa de consumo pode ser exemplifica, segundo a HSI, com estudos como o Instituto Akatu, uma instituição especializada em consumo sustentável no Brasil, “revelando que os consumidores se preocupam com a forma como os animais são tratados na produção de alimentos, e que quase 90% dos brasileiros preferem comprar produtos que não foram produzidos com crueldade animal”, aponta a HSI.

Posicionamentos. “Diversas evidências científicas confirmam que as aves confinadas em gaiolas em bateria sofrem imensamente. A HSI promove uma transição de gaiolas em bateria convencionais para sistemas de produção livres de gaiolas, onde as galinhas têm mais oportunidade de expressar o comportamento natural, incluindo andar livremente, botar ovos em ninhos, empoleirar-se a qualquer hora do dia e à noite, tomar banho de areia e forragear. Esses comportamentos são negados às galinhas em sistemas de gaiolas”, encerra o instituto.

Já ABPA coloca que é a favor que o consumidor possa escolher livremente o que deseja comprar, ou seja, desde que conste em rotulagem todas as informações sobre o produto aos consumidores e que nenhum produto seja impedido de ser comercializado. “A associação defende a preservação do bem-estar animal em todos os sistemas de produção. É também o caso dos produtores de ovos do sistema em baterias, que seguem padrões rígidos de fornecimento adequado de água, ração balanceada, conforto térmico, luminosidade, entre outros aspectos. Por isso, apoia a continuidade da produção de ovos em gaiolas em baterias – assim como dá suporte também para as empresas que produzem em gaiolas enriquecidas, cage-free e free-range, incentivando seus associados a atenderem aos mais variados nichos de mercado”, inicia o descritivo do presidente Turra que tece três principais elementos referentes à produção padrão. Confira abaixo:

  • É um sistema sanitariamente seguro, com melhor controle de enfermidades;
  • É um sistema que economicamente tem como resultado a produção de uma proteína mais acessível a toda a população. Isso precisa ser levado em consideração, visto que vivemos em um País em que a população de baixo poder aquisitivo ainda é muito grande. Pelo sistema em gaiolas de baterias, é possível ofertar aos consumidores ovos mais baratos, sem abrir mão da questão sanitária;
  • Os sistemas em baterias ocupam uma área de produção significativamente menor que outros sistemas. Produtores com pequenas áreas de produção não teriam como migrar para um sistema que demande área maior (existem regras sanitárias de distância entre a produção e outras propriedades, rios, estradas etc). Muitas dessas propriedades com sistemas de gaiolas fechariam se tivessem que produzir “cage-free”. Fatalmente, poderia-se enfrentar um problema de desabastecimento, impactando no fornecimento e, consequentemente, na segurança alimentar da população. A utilização demais espaço (mais terras) exigiriam compra de novas propriedades e novas licenças ambientais que demorariam muitos anos para serem obtidas.