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O vírus H5N1 e seus potenciais contaminantes

Além de causar um grande impacto econômico em toda cadeia produtiva animal, é de alta letalidade e de potencial risco pandêmico
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Resumo: O vírus H5N1, além de causar um grande impacto econômico em toda cadeia produtiva animal, é de alta letalidade e de potencial risco pandêmico. Tem como principal vetor as aves aquáticas migratórias, que através de seus excrementos possuem a capacidade de infectar vários lugares em pouco tempo. A forma mais eficaz de eliminação deste vírus é através de fontes de calor já que o mesmo é inativado, quando em local seco, à temperatura ambiente de 25oC, tornando assim a casca de arroz um ingrediente seguro para a fabricação de diluentes para a alimentação animal.

1 INTRODUÇÃO

O vírus influenza A provoca grande impacto econômico e tem efeitos negativos em toda a cadeia produtiva da avicultura comercial. A influenza aviária é uma doença severa, presente em todos os continentes, e que, desde o século XX vem causando pandemias e dizimando milhões de pessoas em todo o mundo. A maioria das ocorrências está diretamente ligada à exposição com aves infectadas pelo vírus, ou também pelo contato com superfícies contaminadas com excrementos destes animais. O vírus, de origem aviária, tem a capacidade de se replicar em mamíferos como leões marinhos, raposas, cães, gatos, gambás, e também humanos, sendo assim a doença é considerada uma zoonose. A literatura, acerca da transmissibilidade, insinua que exista transmissão do vírus entre os humanos, porém, com baixa eficiência (IBIAPINA, C.C., et al.; 2005).

Segundo nota técnica da EMBRAPA o contato de aves domésticas com as silvestres é determinante para a ocorrência de surtos na avicultura comercial ou doméstica. Os principais hospedeiros naturais e disseminadores deste vírus são as aves migratórias, principalmente as aquáticas, que carregam em seu trato gastrointestinal variadas cepas de vírus da gripe aviária. Quando estas aves apresentam poucos ou nenhum sintoma do vírus, elas podem espalhá-lo entre países limítrofes ou até mesmo a mais longas distâncias, no decorrer de sua rota migratória.

A EMBRAPA suínos e aves ainda destaca que o H5N1 pode ser viável por um grande período, principalmente em locais de baixa temperatura, em fezes íntegras e na água de lagos e lagoas, sendo esta última considerada uma importante fonte de contaminação e reinfecção de aves, principalmente no continente asiático, devido a capacidade que patos migratórios têm de disseminar o vírus.

Este breve estudo objetiva destacar os principais pontos sobre o vírus H5N1, seus meios de transmissão e também as formas que o mesmo pode ser desativado.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 HISTÓRICO

O vírus influenza A, foi o responsável por três pandemias no século XX. A primeira foi no ano de 1918, a gripe espanhola (H1N1) responsável por dizimar por volta de 50 milhões de pessoas. A segunda, em 1957, a gripe asiática (H2N2) e a terceira em 1968, a gripe de Hong Kong (H3N3), ambas levando milhões de pessoas a óbito.

A sequência dos genes da gripe espanhola (H1N1), sugere que ela tenha se originado em um reservatório aviário. Já as gripes asiática e de Hong Kong possuem características em comum: ambas surgiram no sudeste asiático; são antigenicamente diferentes dos vírus influenza que circulavam entre os humanos; são uma recombinação genética entre vírus humanos e aviários. A gripe aviária (H5N1), por sua vez, não é um vírus recombinante, todos os seus genes originaram-se de vírus aviários (IBIAPINA, C.C., et al.; 2005).

Levando isso em consideração, fica evidente a capacidade que os vírus aviários têm no surgimento de cepas pandêmicas, visto que os reservatórios do vírus influenza A são as aves aquáticas migratórias, que através de suas rotas podem contaminar muitas cidades em questão de horas e um continente inteiro em questão de dias (BAHL et al., 2016).

O primeiro caso de infecção humana pelo vírus H5N1 ocorreu no ano de 1997, em Hong Kong, e, desde 2003 até o momento, segundo a nota técnica No 38/2023, do Ministério da Saúde, foram notificados à Organização Mundial da Saúde (OMS) 874 casos humanos,incluindo 458 óbitos.

2.2 EPIDEMIOLOGIA

Segundo o SCIH (serviço de controle de infecção hospitalar) do hospital Albert Einstein, a influenza aviária é classificada como uma doença de distribuição global e que já causou várias pandemias no decorrer dos anos, trazendo sérias consequências ao mercado de produtos avícolas. O vírus influenza muda frequentemente sua estrutura (drift antigênico), o que ocasiona o surgimento de diferentes cepas circulantes todo ano, razão esta pela qual as vacinas mudam anualmente. Quando o vírus muda drasticamente sua estrutura, dá-se o nome de shift antigênico. Essa grande capacidade de mutação é o que ocasiona a fácil adaptação a novos hospedeiros.

2.3 TRANSMISSIBILIDADE

Segundo o portal da EMBRAPA suínos e aves, a transmissão pode ocorrer de duas maneiras:

2.3.1 Entre animais:

As maneiras de propagação são o contato direto com fluídos corporais de aves infectadas, especialmente fezes, alimentação, secreções respiratórias, água, ovos quebrados ou corpos de animais mortos, o que inclui o contato de aves domésticas com aves aquáticas e migratórias que carreguem o vírus.

2.3.2 Entre aves e humanos:

As infecções em humanos, mesmo que incomuns, foram reconhecidas. Elas se dão principalmente pelo contato direto com animais que estejam infectados ou em ambientes contaminados, como mercados de aves vivas. Também são alguns fatores de risco para saúde humana o abate, a depenagem, o manuseio e preparo de aves infectadas.

Não existem relatos nem estudos sobre a transmissibilidade do vírus para os alimentos de origem vegetal com a capacidade de contaminá-los. Em relação ao arroz, em reportagem no portal do G1 em 2008, o tamanho dos arrozais foi considerado juntamente com o grande número de patos e pessoas, os elementos de maior relevância para a disseminação do vírus no continente asiático. Tudo isso graças a pesquisas desenvolvidas pela FAO (Agência das nações unidas para a agricultura e a alimentação), que fez o uso de satélites para mapear o cultivo de arrozais, considerando o tempo, a intensidade de cultivo e os locais onde haviam criações de patos. “A intersecção entre esses dados, junto com a cronologia dos surtos da doença, ajudou os cientistas a assinalar com exatidão as situações críticas no momento em que o risco do vírus H5N1 era maior”, afirmou a FAO.

Quanto ao arroz e aos subprodutos oriundos deste cultivar, não existem estudos científicos sobre os mesmos poderem ser infectados pelo vírus H5N1 podendo assim transmiti-lo através de seu consumo. Sabemos que o arroz passa por um processo de secagem com o objetivo de diminuir o teor de umidade das sementes, para que assim seja reduzida também a ação metabólica e a ocorrência de patógenos no armazenamento (PESKE; VILLELA, 2019), sendo assim muito improvável que este vírus sobreviva a este processamento.

2.4 INATIVAÇÃO DO VÍRUS

Em superfícies, o H5N1, pode viver de duas até oito horas. No esterco, quando em temperaturas baixas, por pelo menos 3 meses. No meio ambiente, até quatro dias à temperatura de 22oC e mais de trinta dias a 0oC (EMBRAPA).

Este vírus é inativado em um dia, quando em localseco à temperatura ambiente de 25oC, ele é mais estável em fezes úmidas, sugerindo assim que a infecção necessita contato com fezes contaminadas recém excretadas. Sua infectividade é detectável após quatro dias de incubação. Quando presente em carne ou ovos, é necessário cozinhar estes alimentos a uma temperatura interna de no mínimo 74oC por pelo menos três minutos, para assim poder eliminá-lo (SAVIA, D.B., 2022).

Ainda, segundo o canal da CNN “o vírus da gripe aviária é eliminado pelo calor (56oC por 3 horas ou 60oC por 30 minutos) e por desinfetantes comuns, como formalina e compostos iodados”.

3 CONCLUSÃO

Diante disso, fica evidente a capacidade de disseminação deste vírus, fazendo com que todas medidas de cuidado sejam postas em prática para que não haja em nosso país um surto desta doença, prejudicando assim toda cadeia produtiva avícola.

Devido a incapacidade que o H5N1 tem em sobreviver em ambientes quentes e sem umidade, fica perceptível a impossibilidade que o mesmo tem em permanecer ativo nos subprodutos da indústria arrozeira, como a casca, em virtude do processo de secagem a temperaturas capazes de inativar o vírus.

A casca de arroz processada pela Sulmix Diluentes vem de fornecedores que utilizam secadores cujas temperaturas variam de 40 a 60oC nos modelos mais modernos e de 60 a 90oC nos modelos mais antigos, calor suficiente para que o vírus seja inativado. Também vale ressaltar que a umidade presente nesta matéria-prima, constantemente monitorada em laboratório próprio, é menor que 10%, não tornando um ambiente viável para manter o vírus

ativo, tornando-a assim um ingrediente seguro para a fabricação de diluentes para a alimentação animal.

4 REFERÊNCIAS

BAHL, J.; et al. Ecosystem Interactions Underlie the Spread of Avian Influenza A Viruses with

Pandemic Potential. Plos Pathogens, Texas, mai. 2016.

EMBRAPA suínos e aves. Influenza aviária. Disponível em: <https://www.embrapa.br/suinos-

e-aves/influenza-aviaria>. Acesso em 13 nov. 2023.

G1. Globo.com; Homens, patos e arroz têm papel-chave nos surtos de gripe aviária. Disponível em:

<https://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL364291-5602,00-

HOMENS+PATOS+E+ARROZ+TEM+PAPELCHAVE+NOS+SURTOS+DE+GRIPE+AVI

ARIA.html>. Acesso em: 15 nov. 2023.

IBIAPINA, C.C., et al.; Influenza A aviária (H5N1) – A gripe do frango. Jornal Brasileiro de

Pneumologia 31 (5). Out. 2005. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1806-

37132005000500012>. Acesso em: 10 nov. 2023.

MEDICAL SUITE, Diretoria técnica, Albert Einsten. Influenza Aviária H5N1. 30 maio 2023.

1a edição. Disponível em: <https://medicalsuite.einstein.br/pratica medica/Documentos%20

Doencas%20Epidemicas/Influenza%20Avi%C3%A1ria%20H5N1.pdf>. Acesso em: 15 out.

2023.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Nota Técnica no 38/2023-CGVDI/DPNI/SVSA/MS. Disponível

em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/notastecnicas/2023/

substituicao-da-nota-tecnica-no-35-2023-cgvdi-dpni-svsa-ms.pdf/view>. Acesso em: 13 nov.

2023.

PESKE, S.T.; VILLELA, F.A. Secagem de sementes In: PESKE, S.T.; VILLELA, F.A.;

MENEGHELLO, G.E. Sementes: fundamentos científicos e tecnológicos. Pelotas: UFPel,

2012. p. 373-425.

SAVIA, D.B. Gripe aviária como risco potencial em alimentos. Food Safety Brazil. 5 ago.

2022. Disponível em: <https://foodsafetybrazil.org/gripe-aviaria-como-risco-biologico-

potencial-em-alimentos/>. Acesso em: 15 nov. 2023.

Fonte: Emanuelle Vargas Alves.

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