Natália Ponse, da redação
natalia@ciasullieditores.com.br
Ritmo fraco, margens curtas e arrobas lá embaixo. Pressão de ativistas, do governo, dos frigoríficos e da própria cabeça. É, ser pecuarista não está sendo fácil, principalmente nos últimos três anos. Mas, superar o fácil não tem mérito, é obrigação. Vencer o difícil é glorificante – e ultrapassar o que até então era impossível, ah, isto é esplendoroso.
Recomeçar é mais difícil que começar, pois requer o fôlego da superação e a coragem do início; e convenhamos, se vamos falar de coragem, estamos falando na data certa. Neste ano o 15 de julho, dia nacional do pecuarista, por ironia cai num domingo. Todos descansando com suas famílias, recuperando as forças para mais uma semana. Adivinha quem está trabalhando? O pecuarista. Com sol? Sim. No frio? Também. Afinal, se ele não cuidar da sua produção, o seu almoço de domingo fica sem mistura.
“Ser pecuarista é enfrentar adversidades diariamente, seja em relação ao mercado ou ao negócio propriamente dito. Não há subsídios e, por isso, precisamos buscar o sucesso com nossas próprias forças”. As palavras, sinceras em toda a sua realidade, são do presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), Nabih Amin El Aouar.
Ele conta que falta crédito com juros diferenciados e mais tempo para pagamento, além de ser igualmente importante fortalecer o serviço de extensão rural. Por outro lado, diz, uma parcela da população imputa aos pecuaristas a responsabilidade pelo desmatamento e poluição. “Ora, somos produtores de alimentos de qualidade e os maiores interessados na preservação ambiental”, enfatiza.
Nabih Amin El Aouar é médico cardiologista além de produtor rural. “A carne e o leite fazem um bem enorme à saúde humana. A inteligência do homem está diretamente ligada ao benefício cognitivo da carne e de sua qualidade superior de nutrição em comparação aos vegetais”, pontua. Então, além de trabalhar de sol a chuva, ele também é o responsável pela sua alimentação de qualidade?! Convenhamos, falta reconhecimento.
Por que não é fácil. Mesmo. A pecuária é uma atividade de alimentos de alta qualidade, e o Brasil tem papel muito importante na produção mundial. Sabemos que a projeção até 2050 é que a população mundial alcance mais do que 9 bilhões de pessoas – esse é, aliás, o grande mote e bandeira que a feed&food carrega. Dada essa relevância, o presidente da ACNB é firme: não podemos nos abater com eventuais crises. “Precisamos trabalhar para produzir mais e melhor e, neste cenário, é indiscutível a importância da raça Nelore, que detém 80% do rebanho brasileiro. A produção de carne bovina, no Brasil, depende e precisa do Nelore”, afirma.
Falamos lá no início da reportagem sobre superar dificuldades. Apesar dos percalços após a Operação Carne Fraca e as delações, a arroba do boi este ano ainda segurou as pontas e manteve uma queda pequena em relação a tudo o que passou, cerca de 25%. O problema é a reposição, que ficou mais cara; o preço do milho, que vem piorando… Os confinamentos também vieram de ciclos de custos muito afetados, então sem grandes rentabilidades. Quem comprou o bezerro mais caro lá atrás, acabou perdendo dinheiro.
Pessina explica que, com as principais ameaças em seu limite de capacidade (como Austrália e EUA), surge o potencial do Brasil suprir a demanda mundial por carne. Mas, salienta: é preciso que o setor produtivo aprenda a responder com informação, transparência, qualidade de processo e segurança na alimentação. “Nossos concorrentes já sabem fazer tudo isso, e nós ainda estamos muito frágeis. O mercado internacional é muito mais burocrático e exigente, e exploca isso para ganhar em preço da carne. Temos que aprender a explorar esse ponto para que, em uma situação de crise, não sejamos o elo mais fraco e, logo, o alvo de ataques”, observa (Foto: divulgação) ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ
“O pecuarista olhava muito para dentro da fazenda, produzia e entregava o boi. Com todo esse cenário externo, incluindo o milho, ele precisa passar a olhar para fora da porteira e enxergar as oportunidades lá fora para poder nortear a sua produção no caminho da rentabilidade”, aconselha o presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), Alberto Pessina. O pecuarista ainda não está familiarizado com as ferramentas de mercado, diz Pessina, e, dessa forma, fica mais difícil prever as movimentações, abrindo caminho para que mais obstáculos surjam.
“Capacitar-se, buscar orientação, aproveitar os recursos existentes, aprender e aplicar as novas tecnologias e inovações. Além disso, ter vontade de trabalhar e de colocar tudo isso em prática, da forma mais correta, honesta e qualificada possível. Os índices de produtividade da pecuária brasileira estão aumentando ano após ano em decorrência do trabalho sério e competente dos produtores”, complementa Nabih Amin El Aouar.
O empenho diário do pecuarista é o combustível para fazer a máquina do agro girar. Mas, quem dá suporte para que ele consiga alcançar resultados dignos do seu esforço? Aqueles que fornecem as tecnologias para impulsionar a produtividade do ganha pão do pecuarista. No mercado são várias as empresas que oferecem soluções capazes de duplicar e até triplicar os resultados de uma fazenda. A AB Vista, por exemplo, aposta no aumento das margens da pecuária leiteira com o Vistacell. O produto, de levedura viva da variedade Saccharomyces cerevisiae, é secado em forma granular, possuindo uma parede externa que serve para proteger um núcleo interno de células de leveduras vivas, garantindo melhora na estabilidade.
“As paredes celulares da maioria das leveduras usadas em dietas de ruminantes, sejam vivos, mortos ou apenas fragmentos celulares, podem atuar como uma fonte de alimento e ligar agentes patogênicos, bem como estimular o sistema imunológico dos bovinos adultos e jovens”, afirma o gerente de Negócios Ruminante LAM da companhia, Nelson Ferreira Junior.
São tecnologias como esta que facilitam o duro trabalho do pecuarista que não vê as dificuldades como pedras, e sim, como pontes. Um caminho que pode ser trilhado com responsabilidade, profissionalismo e muita paixão pelo o que faz. Trabalhar com pecuária é trabalhar com o coração, a cabeça e a capacidade física. É cuidar de cada cabeça com todo o carinho de quem entende o verdadeiro valor do que é viver em harmonia com a natureza.
Não importa se a fazenda é pequena ou grande – o amor é de encher os olhos. Lá em Rochedo (MS), uma fazenda de mil cabeças de gado trabalha sol a sol com recria e engorda. Tudo começou com a perseverança incansável de um homem, Oswaldo Saraiva Santos. Engenheiro mecânico, toda sua vida empenhou seus esforços em uma grande companhia no Brasil. Errou muito, acertou bem mais.
Ensinou aos filhos tudo o que aprendeu e hoje tocam juntos o negócio. Flávio Abdo, um deles, trabalhou anos no mercado financeiro, na área de Hedge focado em commodities. São 25 anos trabalhando em prol do agronegócio. Uma paixão eterna pela pecuária brasileira, mas que reconhece a desafiadora situação atual. “Estamos sentindo muito esse cenário turbulento que já estamos passando há uns três anos. A insegurança é clara no setor, o crescimento do Brasil é abaixo do esperado e fomos impactados diretamente pelos últimos acontecimentos. Perdemos credibilidade no mercado interno e externo”, lamenta o pecuarista.
Peço licença para repetir o que foi dito no início: superar o fácil não tem mérito, é obrigação. Vencer o difícil é glorificante – e ultrapassar o que até então era impossível, ah, isto é esplendoroso. Para aqueles que já driblaram a febre aftosa (ao ponto de o Brasil ser reconhecido como livre da doença com vacinação), os problemas com a mudança de tributação e as pautas de negociações, este é somente mais um obstáculo a ser superado. “Estamos passando por alterações significativas no setor e os que sobreviveram nele nestes últimos anos podem se sentir honrados e com a certeza e a sensação de dever cumprido”, deseja Flávio Abdo.