Natália Ponse, da redação
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O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, Brasília/DF) anunciou no final de janeiro a liberação da nova dose da vacina contra a febre aftosa no Brasil. Entre as principais mudanças está o volume (que passou de 5ml para 2 ml) e a metodologia na aplicação, que passará a ser orientada na forma subcutânea. Todo o calendário de vacinação deste ano segue sem mudanças, com a vacina de 5 ml. A nova modalidade só passa a valer a partir do ano que vem.
O grande norteador desta nova fase da sanidade bovina brasileira é o Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (Pnefa). Aprovado no início de outubro de 2017, o plano divide o Brasil em cinco blocos, para que seja feita a transição de área livre da aftosa com vacinação para sem vacinação. Integram o Bloco I: Acre e Rondônia; o Bloco II: Amazonas, Amapá, Pará e Roraima; o Bloco III: Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte; Bloco IV: Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe e Tocantins, e; Bloco V: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
As diretrizes básicas preveem gestão compartilhada entre governos e iniciativa privada; aperfeiçoamento das capacidades do Serviço Veterinário Oficial (SVO); regionalização das ações; sustentação financeira; adequação e fortalecimento do sistema de vigilância; agilidade e precisão no diagnóstico; previsão de imunógeno (partícula, molécula estranha ou organismo capaz de induzir uma resposta imunológica) para emergências veterinárias; cooperação internacional e educação em saúde animal.
O MAPA, por meio do Departamento de Fiscalização de Insumos Agropecuários (DFIP), optou por orientar os produtores a utilizar a vacinação de forma subcutânea, embora as duas maneiras de aplicação das vacinas (subcutânea e intramuscular) apresentem a mesma eficácia, comprovada nos últimos 50 anos de combate à doença.
A alteração na dosagem, por sua vez, justifica-se pela questão logística, reduzindo o espaço destinado ao armazenamento das vacinas, facilitando o transporte das mesmas, entre outras vantagens. Esta alteração também obrigará as indústrias a ajustar seu processo de produção, tendo impacto significativo na logística – a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) só autoriza a entrada no mercado dos lotes de vacina testados no Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro, Campinas/SP).
O grande ponto chave para a alteração na forma de aplicação da vacina contra febre aftosa é dividido em dois pontos: o primeiro refere-se à diminuição da perda de carcaça. Segundo afirma o ministério, esta via de aplicação pode reduzir muito a necessidade de se fazer toalete na parte do animal em que foi aplicada a vacina. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA, Brasília/DF), normalmente é retirado um ou dois quilos de carne por animal abatido, e isso sai do bolso do produtor. Esta é uma das razões pelas quais a Secretaria de Defesa Agropecuária recomenda oficialmente a via subcutânea nas campanhas de vacinação a partir de maio deste ano.
O segundo tem a ver com o surgimento de abcessos, já que a via de aplicação subcutânea minimiza o seu surgimento, reduzindo efeitos indesejáveis da administração da vacina. Conforme explica o consultor de Defesa Sanitária da CNA, Décio Coutinho, a formulação sofreu uma diminuição na água e no óleo, além da retirada da saponina. “É um produto que aumentava a irritabilidade e a reação do organismo”, complementa. O gerente executivo da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), Bruno de Jesus Andrade, ressalta: “É esperada a redução da incidência de abcessos, mas é necessária muita atenção na aplicação da vacina. Por exemplo, mantê-la em temperatura fora da ideal pode causar abcessos no animal ou até mesmo inutilizar a vacina”.
Cuidados como este são cada vez mais necessários, tendo em vista a projeção global do gado brasileiro. O MAPA acredita que essa mudança vai modificar a imagem do Brasil no exterior de forma muito positiva. A Secretaria de Defesa Agropecuária, com a visão técnica do Departamento de Saúde Animal, acredita ser esse um passo importante para o status sanitário do País, com a responsabilidade de manter as conquistas do passado. Essa projeção leva em conta as contínuas ações prestadas, o atendimento às demandas do setor agropecuário do Brasil e o cumprimento da missão de regulação e fiscalização, vigilância e controle realizado pela SDA juntamente com setor produtivo, que nos permitiu sermos reconhecidos internacionalmente na atividade agropecuária.
Mas vamos voltar para dentro da porteira e falar de quem é o real (?) afetado pela mudança: o produtor. Questionamos o ministério com relação ao impacto no pecuarista, e foi indicado que o manejo do rebanho será otimizado, “impactando positivamente as ações do Pnefa no médio e no longo prazos, com a segurança e a mesma credibilidade que é assegurada atualmente”, divulga a pasta.
Com relação ao custo, não é possível apontar com certeza sobre as mudanças na vida da fazenda. Bruno Andrade, da Assocon, afirma que as indústrias farmacêuticas necessitam rodar testes para garantir a eficiência dessa aplicação, mas destaca: “É importante ressaltar que o uso de uma menor dosagem irá requerer mais atenção dos produtores/colaboradores no momento da aplicação. Se as perdas forem maiores na aplicação, poderá anular eventual benefício por redução de dose”.
No entanto, todos esses benefícios só poderão ser recolhidos em 2019. De acordo com o MAPA, a redução na dosagem de 5ml para 2ml requer adequação do processo produtivo da vacina, comprovação de segurança e eficácia da nova dose utilizada o que implica em estudos específicos. Tais estudos estão sendo realizados pelo fabricante do produto e pelo Lanagro, em 100% dos lotes pilotos produzidos.
A expectativa é que, após seis meses de trabalho, os estudos sejam concluídos e que a indústria possa disponibilizar um quantitativo de vacinas com doses de 2ml, testadas e aprovadas pelo MAPA. Considerando que não é desejável a oferta simultânea de vacinação com doses diferentes, de 2 e 5ml em uma mesma campanha, a Secretaria de Defesa Agropecuária entende que é prudente assegurar disponibilização integral de vacina com dose de 2ml somente para a primeira campanha de 2019 .
No entanto, a CNA discorda. Segundo defende Décio Coutinho, quando há prejuízo, é preciso diminuí-lo o mais rápido possível “A solicitação da alteração no volume da vacina foi feita em março de 2017, tempo que a CNA considera suficiente para fazer a alteração no produto e ter a vacina disponibilizada ainda em 2018”, finaliza.