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Não precisa marcar a fogo! Carmen Perez explica como alternativas funcionam na prática 

Pecuarista é especialista em bem-estar animal e fala sobre desafios e benefícios do manejo
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Natalia Ponse | natalia@dc7comunica.com.br

Na produção de alimentos, onde a terra, o Sol e a chuva se transformam em proteína saudável, é vital reconhecer que cada passo dado nos pastos reverbera no prato do consumidor. Mais do que uma simples transação comercial, a pecuária é um pacto entre o homem e a natureza, uma dança sincronizada entre o cuidado com o ambiente e o respeito pelos seres vivos que nele habitam.

No campo, cada bovino é mais do que apenas um número no rebanho. O bem-estar animal tornou-se não apenas uma preocupação, mas uma missão. O respeito pelo meio ambiente e pelos próprios animais se entrelaçam com a missão fundamental do agronegócio: alimentar a humanidade.

Cresce a percepção de que a essência da pecuária vai muito além de produzir carne e leite. É sobre cultivar uma relação de respeito mútuo entre o ser humano e seus companheiros de pasto. Afinal, animais felizes produzem não só uma carne de melhor qualidade, mas também um clima de paz e harmonia que contagia toda a equipe envolvida no manejo.

E um aspecto recente da história do bem-estar animal no Brasil se revelou em fevereiro deste ano. O Estado de São Paulo retirou a obrigatoriedade da marca a fogo como marcação da vacina de brucelose, substituindo ela pelo identificador na orelha dos bovinos. 

O respeito pelo meio ambiente e pelos próprios animais se entrelaçam com a missão fundamental do agronegócio: alimentar a humanidade (Foto: divulgação)

Apesar de ser uma atitude adotada gradualmente pelos produtores, ela ainda vai contra o “jeito antigo” de trabalhar – empecilho que, muitas vezes, se mostra presente nas fazendas. E é para transformar este cenário que Carmen Perez, empresária rural e comunicadora do agronegócio, atua como um megafone desta causa no setor.

“O meu foco com o bem-estar animal sempre foi pensando em ter um ambiente de trabalho mais saudável, tanto para as pessoas que moram nas fazendas quanto para os animais. Então, quando falamos desse assunto, consequentemente, falamos de bem-estar humano, porque um leva o outro a um ambiente calmo e saudável”, resume Carmen.

Outro ponto primordial sobre este tipo de manejo é assegurar a segurança da equipe que está trabalhando na “linha de frente” da pecuária, formando um ambiente saudável não só para os animais, mas também para os trabalhadores – resultando em produtividade tanto na produção quanto na parte econômica.

Carmen conta que o bom trato aos animais, para ela, tem a ver com princípios e ética. “Começamos um projeto em 2016, aqui na Orvalho [Fazenda Orvalho das Flores], retirando sete de oito marcas [de fogo]. A única que permaneceu foi a da brucelose, que é obrigatória pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA)”, diz e acrescenta: “Junto ao professor Mateus Paranhos, em 2021, demos início a um projeto chamado ‘Redução da Marca Fogo – Grupo Ético BE.Animal e Orvalho das Flores’, com o objetivo de mostrar formas menos invasivas, na questão de dor para o animal; e mais efetivas na questão da gestão, na coleta de dados”. 

De lá para cá, o conhecimento evoluiu. Outras formas de identificação, como tatuagem, brinco com número ou bóton eletrônico, são muito eficazes para a gestão e para o bem-estar animal. 

“Quando falamos desse assunto, consequentemente, falamos de bem-estar humano, porque um leva o outro a um ambiente calmo e saudável”, resume Carmen Perez (Foto: divulgação)

Nasce uma nova forma de produzir carne

Esse tipo de manejo com foco no bem-estar animal é um movimento que, querendo ou não, tira da zona de conforto aquele pecuarista que segue o “jeito antigo” de trabalhar. “É uma questão cultural, primeiro porque a marcação a fogo é a forma mais tradicional de se identificar o animal, não só no Brasil, mas em muitos lugares do mundo; e, também, existe uma questão prática da complexidade pela questão da segurança”, explica Carmen.

A pecuarista conta que muitos produtores alegam viver em uma área de muitos roubos, ou onde a divisa não é confiável e, por isso, perder a marcação a fogo acaba deixando o gado vulnerável. “Existe a possibilidade de fazer essa redução”, conta Carmen, esclarecendo: “Quando fizemos a redução na Orvalho das Flores, a equipe estava super receosa. Depois, perceberam que o trabalho deles facilitou muito no curral, porque quando passamos o bastão eletrônico no bóton eletrônico, é tudo muito mais rápido, silencioso e com uma eficácia muito maior”.

Para a especialista em bem-estar animal, houve um forte avanço neste assunto nos últimos dez anos. Ela deve esta evolução à conscientização e à disposição para entender o comportamento dos animais. Isso porque, antes de essas informações virarem “arroz com feijão”, elas não estavam disponíveis ao produtor. 

“Hoje vivemos em um mundo muito conectado, com essas informações amplamente disponíveis. É claro que toda mudança gera uma insegurança para as pessoas, para todo ser humano, porque é diferente daquilo que é feito há tantos anos. Mas, sinto que a cada ano os pecuaristas estão mais abertos para esse diálogo em relação à redução da marca-fogo”, celebra a produtora.

Na Orvalho das Flores, identificação é feita por meio de brincos [foto] e bótons eletrônicos (Foto: divulgação)

Sim, eles sentem

São muitas as pesquisas que atestam a senciência e a capacidade de raciocínio dos animais. Um estudo publicado na revista Applied Animal Behaviour Science em 2015, por exemplo, examinou a capacidade de aprendizado e memória de vacas adultas, comparando-as com humanos em idade escolar. Os pesquisadores descobriram que as vacas são capazes de aprender e lembrar tarefas complexas, como encontrar comida em um labirinto, de forma semelhante a crianças de 6 ou 7 anos.

Mas, aqui, nesta reportagem, a proposta é falar da prática. Perguntei à Carmen Perez, pecuarista experiente e próxima ao manejo do dia a dia no campo, sobre este aspecto. Ela respondeu: “Percebo que os bovinos têm uma excelente memória. Todos os manejos pelos quais eles passam, tanto os positivos quanto os negativos, ficam gravados na memória dos animais”.

Ela ainda conta que, em sua fazenda, quando os animais passavam para receber as sete marcas (marca do número, mês e ano de nascimento; e a marca da fazenda), aquilo também ficava registrado. “A marcação a fogo é uma queimadura na pele, né? Tem muitas pesquisas mostrando que todo esse processo inflamatório dura oito semanas, quando o animal pode sentir dor; e o pico do estresse, nas três primeiras horas após a marcação a fogo, causa elevação do cortisol, que é o hormônio do estresse, elevando a frequência cardíaca”, complementa Carmen.

É bom para todo mundo

Na experiência prática da pecuarista, os manejos são muito mais rápidos sem a marca a fogo – e, também, mais eficazes. Sua equipe fez uma pesquisa, por exemplo, mostrando a margem de erro de leitura da marcação a fogo. O que era isso? Um vaqueiro cantando, o gerente anotando… Nessa toada, a margem de erro foi de 18%, ou seja, uma margem de erro muito alta. E isso, complementa Carmen, tem uma relação direta nessa questão de tomada de decisão. “Como podemos tomar uma decisão com a margem de erro de 18%?”, questiona. 

Essa margem de erro impacta também outro mercado além da carne, o de couro. “Um dos maiores desafios da cadeia do couro é a falta de transparência. As marcas, muitas vezes, não sabem de onde vem o couro. E os consumidores cada vez mais pressionam para isso. Tanto é que, hoje, existe um projeto chamado Acelerador de Impacto do Couro [Leather Impact Accelerator], que é desenvolvido pela Textual Exchange”, diz Carmen, acrescentando: “No Brasil, é representado pela Produzindo Certo. E o grande foco é criar um mercado mundial de créditos de couro responsável e, assim, gerar valor para o pecuarista”.

Exigências e tendências que se estendem, claro, à imagem do agronegócio. “Muitas ONG’s de proteção animal associam essas práticas, como a marcação a fogo, a algo muito negativo. E usam isso para criticar a pecuária brasileira”, indica Carmen.

Por isso, é essencial focar nos aspectos positivos nas várias outras formas eficazes de marcação do gado. Na Orvalho das Flores, Carmen fala de uma pesquisa sobre a taxa de retenção dos brincos, por exemplo, motivo de reclamação dos produtores que pontuaram a queda excessiva do acessório do animal. “A taxa de retenção anual foi de 99%, ou seja, perda de apenas 1%. É uma identificação super eficiente”, diz. 

Formas menos invasivas e que, ainda, contribuem para a gestão de dados, formam um caminho sem volta. E este caminho envolve um aspecto fundamental: o treinamento da equipe: “A peça mais importante que temos é a peça humana, e é nisso que temos de investir – na conscientização, no treinamento dessas pessoas que estão todo dia na lida com o gado”. 

A pauta envolvendo as alternativas ao uso da marca de fogo em bovinos vai além do debate sobre técnicas de identificação. Envolve, principalmente, o verdadeiro propósito do agronegócio: o compromisso com o bem-estar animal e o respeito ao meio ambiente. 

No Dia do Boi, celebramos não apenas um animal, mas um símbolo de grandeza, força e importância para a agricultura brasileira e para o mundo. Como porta-voz da agroindústria da cadeia de produção de proteína animal no Brasil, a FeedFood orgulha-se de fazer parte de um setor que coloca o boi no centro de suas operações, reconhecendo-o como o verdadeiro protagonista da pecuária.

O boi não é apenas um animal, mas um elo vital na cadeia alimentar global, responsável por fornecer proteína de qualidade para milhões de pessoas em todo o mundo. Como um dos principais exportadores de carne bovina, o Brasil desempenha um papel fundamental nessa missão, alimentando não apenas nossos próprios cidadãos, mas também contribuindo para a segurança alimentar em escala internacional.

Neste Dia do Boi, renovamos nosso compromisso em apoiar e promover o agronegócio brasileiro, reconhecendo o valor e a dedicação dos produtores rurais que trabalham incansavelmente para garantir a qualidade e a sustentabilidade de nossa produção de carne bovina. Que possamos continuar honrando o legado do Boi e celebrando sua contribuição vital para a alimentação global.

FEEDFOOD: A PORTA-VOZ DA AGROINDÚSTRIA DA CADEIA DE PRODUÇÃO DE PROTEÍNA ANIMAL

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