Cerca de 1/3 de tudo que é produzido de alimento no mundo é perdido ou desperdiçado anualmente, o que gera impactos econômicos, ambientais e sociais. E quando falamos sobre o Brasil, a quantidade de perda é maior nos elos iniciais da cadeia (produção, transporte, armazenamento etc.), característica dos países em desenvolvimento em virtude da falta de infraestrutura adequada.
Com o título “O comportamento do consumidor no desperdício de alimentos em domicílios brasileiros”, a pesquisa de doutorado de Lucas Rodrigues Deliberador desenvolveu um modelo teórico que permite identificar e aquilatar as causas que levam ao desperdício de alimentos nos domicílios brasileiros.
A tese foi ganhadora do Prêmio “Prof. Evaristo Marzabal Neves” de melhor tese de doutorado em Administração Rural de 2023, premiação concedida anualmente pela Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober).
O trabalho teve a orientação do professor Mário Otávio Batalha, do Departamento de Engenharia de Produção (DEP) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e foi defendido no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) em 14 de fevereiro de 2023.
“É importante ressaltar que a maior parte do desperdício pode ser evitável ou possivelmente evitável, por exemplo, partes de alimentos que algumas pessoas comem e outras não (cascas de frutas, legumes etc.). A ideia foi elaborar um modelo teórico, criado a partir de diferentes variáveis encontradas na literatura, que abordasse as possíveis causas do desperdício. Esse modelo foi testado empiricamente para saber quais dessas variáveis poderiam ser validadas para a nossa amostra. A análise dos resultados se deu por meio da técnica estatística de modelagem de equações estruturais”, explicou Lucas.
Entre alguns resultados, ele indica que aquelas pessoas que se preocupam mais com as questões ambientais e poupar dinheiro (visto que o desperdício de alimentos também é um desperdício de recursos financeiros) têm maior intenção em reduzir o desperdício. Pessoas que se preocupam com as causas sociais, como com pessoas que passam fome, também desperdiçam menos alimentos.
No entanto, o brasileiro também tem a característica de ser um bom provedor de alimentos para seus familiares e convidados. Assim, aquelas pessoas que gostam de fornecer alimentos em abundância em suas refeições tendem a desperdiçar mais. O mesmo acontece com pessoas que são mais seletivas com a aparência dos alimentos, que descartam, por exemplo, uma fruta ou vegetal com algum “machucado”.
“Nós esperamos que o estudo não contribua apenas com a teoria, embora estudos dessa problemática sejam escassos em países emergentes. Queremos que, além de entender o comportamento do consumidor brasileiro frente ao desperdício de alimentos em domicílios, a pesquisa possa contribuir com as políticas de prevenção do desperdício e segurança alimentar, conscientização dos consumidores e elaboração de futuras agendas de pesquisas nesta área”, acrescentou.
E quais são as melhores formas de reduzir o desperdício de alimentos? O pesquisador citou algumas: planejar melhor as suas refeições; dar um melhor aprovisionamento dos alimentos prontos; conferir as datas de validade das embalagens e a quantidade de alimento que vem em uma embalagem ao comprá-lo; fazer uma lista de compras consciente e segui-la ao ir ao supermercado; se policiar com promoções do tipo “compre um, leve dois”, que podem levá-lo a comprar em excesso; reaproveitar as sobras; checar os alimentos que foram esquecidos no refrigerador. E o principal, não esquecer daqueles que vivem com insegurança alimentar, esta pode ser a maior forma de conscientização.
Fonte: Ufscar, adaptado pela equipe FeedFood.
LEIA TAMBÉM:
Embarques de carne suína crescem 9,3%
Brasil exportará carnes processadas à Singapura Exportações brasileiras de carne de frango crescem 6,6% em julho