Natália Ponse, da redação
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Neste ano o dia 25 de maio, celebrado como o dia do trabalhador rural, se encontra em meio a um momento histórico para o Brasil. A greve dos caminhoneiros fez surgir uma informação “nova” (com muitas aspas) para a população urbana: não, os alimentos não “nascem” no supermercado. Tem muito chão desde a produção do alimento até o transporte pela carroceria de um caminhão.
Ali no campo, onde tudo nasce, existe um protagonista: o trabalhador rural. Pensou em um peão da roça que mal sabe escrever, só andar a cavalo? Tente de novo. “Ele está cada vez mais parecido com o trabalhador urbano. Está bem preparado, treinado e ainda mais competente do que já era”, avalia o presidente da Sociedade Brasileira Rural (SRB), Marcelo Vieira.
A entidade, inclusive, auxilia nessa jornada com um time de treinamento para formar os trabalhadores. “É uma atividade cada vez mais tecnificada, então é preciso uma melhor qualificação. Se for operar máquinas modernas, precisa estar preparado”, complementa Vieira, que ressalta outro aspecto que tem tudo a ver com essa mudança: o trabalhador rural já não vive no campo.
“Antigamente ele morava em uma colônia na fazenda, o que hoje já não acontece tanto. A propriedade virou um local de trabalho mesmo, já que na cidade eles encontram melhor qualidade de vida, escolas, comércio entre outras facilidades”, pontua o presidente da SRB, que destaca também a dificuldade em completar equipes no campo com o êxodo rural.
O fato de as novas linhas de produção de todos os setores terem sido atingidas pela tecnologia não poderia deixar de fora um dos principais mercados do Brasil. “Hoje é preciso acompanhar o ritmo de produção, crescimento, engorda, mortalidade… Indicadores que antes eram feitos ‘no caderninho’ e que, agora, são realizados por meio de sistemas”, explica o sócio e diretor da MESA Corporate Governance, uma consultoria especializada em governança corporativa e processos de sucessão familiar, Luiz Marcatti.
De acordo com o especialista, o mundo da tecnologia começou a pensar em como ajudar o produtor, que está lá na ponta da cadeia, a melhorar a sua relação e seus resultados. O resultado: sai o modelo caseiro de produção (“meu pai produzia assim”) para um olhar mais amplo, grupal e sem fronteiras. “A indústria da tecnologia começa a ajudar os pequenos produtores a atuar parecido com os grandes, e vemos isso nas grandes soluções tecnológicas em feiras agropecuárias, com investimentos em equipamentos faraônicos, drones e outras opções”, completa Marcatti.
Desafio do momento. Que a tecnologia chegou ao dia a dia no campo, não é novidade. O principal gargalo do trabalho rural, agora, é lidar com outro ponto: a gestão. Normalmente o produtor tem muita preocupação com o sistema de produção, mas nem tanta com o negócio em si. É aí que, segundo Luiz Marcatti, ocorre um choque de realidades: a ação está no futuro, mas a administração ainda é caseira.
A partir disso surge o desafio da sucessão. A volta dos filhos do campo, que foram para a zona urbana estudar outros assuntos, é incerta. “Aquele que nasceu no ambiente rural e viu o que era um patrimônio grande de ‘baixo’ retorno, quando se viu na cidade em que se avalia negócios sobre investimento de uma maneira mais curta, com percentuais diferentes, ele acredita que a produção no campo tem muito risco”, explica Marcatti.
O especialista ainda destaca que não é preciso escolher um filho para atuar diretamente no dia a dia da fazenda, mas que é preciso integrar um ou mais herdeiros no assunto. “Como mantenho meus filhos unidos para manter o negócio grande? Preparando-os para serem sócios, definindo claramente qual papel cada um vai exercer. Profissionalizar a gestão para que eles saibam liderar essa ‘empresa’ é a chave”, diz e completa: do mesmo jeito que se tem preocupação com avanços tecnológicos, é preciso ter visão de como estruturar uma grande empresa.
É do Brasil. Apesar do ímpeto em exaltar outras nações enquanto superiores, o presidente da Sociedade Rural Brasileira destaca: em 40 anos de agronegócio, tendo viajado quase todo o mundo, foi aqui no Brasil que ele encontrou a legislação trabalhista mais completa e exigente para o campo. “Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, o trabalhador urbano tem uma boa segurança, mas o do campo tem zero. É geralmente um imigrante ilegal que chega de outro país sem direito algum, morando muitas vezes em condições precárias”, revela Marcelo Vieira.
O que lá é um trabalho padrão, aqui é chamado por outro nome: trabalho escravo. “No Brasil temos uma fiscalização trabalhista muito efetiva, quando se encontra um caso é a exceção e não a regra. A norma é de um padrão trabalhista de qualificação e registro, tudo certinho. Isso se dá pela severidade na fiscalização”, finaliza.