Para que o produtor tenha em seu rebanho animais que manifestam todo seu potencial de produção de leite, existe uma fase crucial, na qual ele não pode errar: o PERÍODO DE TRANSIÇÃO.
Mas, afinal, o que é Período de Transição?
Trata-se de um curto período de três semanas antes e três semanas após o parto. É uma fase muito crítica e importante na qual os animais sofrem grandes alterações metabólicas e fisiológicas e, dependendo da situação, poderá promover o sucesso ou o insucesso de toda a lactação do animal.
Gosto de me referir a esta fase como uma preparação para uma Maratona, e não uma simples corrida de 100 metros. Por isso, apontarei neste artigo a importância e as principais estratégias para sucesso no Período de Transição, considerando os pilares de manejo, ambiência e nutrição. Partindo do principal ponto, o consumo de matéria seca (CMS).
Garantir a adequada ingestão de nutrientes é fundamental para se ter um bom balanço nutricional,ótima imunidade, além de excelentes índices reprodutivos e produtivos.
Outro ponto importante é realizar um manejo integrado de forma que os animais não cheguem no período seco com um escore corporal elevado, e, por isso, é necessário garantir que eles também não ganhem peso excessivo durante esta fase. Estes cuidados diminuem muito o risco de várias doenças metabólicas, como cetose, esteatose hepática (fígado gorduroso), deslocamento de abomaso, entre outras.
Função Imune
O sistema imune representa o sistema de proteção do organismo contra doenças e distúrbios em geral. Existe uma relação relevante entre o consumo de matéria seca, balanço energético negativo (perda de peso) e a imunidade dos animais. Sempre que o consumo de alimentos não é maximizado se torna comum o surgimento de doenças como hipocalcemia, retenção de placenta, metrite e cetose, ativando o sistema imunológico de uma forma ineficiente, levando a gastos excessivos que acabam competindo com a performance produtiva no curto prazo, e no desempenho reprodutivo no longo prazo.
Estudos mostram que uma a cada quatro vacas deixam o rebanho em decorrência de complicações neste período.
Um exemplo de como o sistema imune é desafiado neste período é o número de infecções. Cerca de 36% das infecções são ocasionadas por Streptococcus e cerca de 50% por coliformes, ocorrendo durante o início da lactação (Fonte: Leo Timms, IOWA University)
Devemos realizar o monitoramento de doenças e promover um diagnóstico precoce a fim de obter sucesso nos tratamentos durante este período crítico. As doenças ocasionam inflamação e danos teciduais, alterando assim a partição de nutrientes, fazendo com que o organismo do animal entre em modo de sobrevivência, e não no esperado movimento em prol da produção ou crescimento.
Nutrição Adequada
As dietas aniônicas,também conhecidas por dietas acidogênicas, proporcionam uma leve acidose metabólica, induzindo uma melhor resposta dos receptores de paratormônio que mobilizam o cálcio dos ossos para o sangue, aumentando, dessa forma, a absorção intestinal e reduzindo a excreção urinária de Ca.
O correto balanceamento nutricional é fundamental nessa fase, afinal envolve a preparação dos órgãos e sistemas-chave (rúmen, fígado, sistema imune, entre outros) para uma lactação mais eficiente. Por isso, é crucial que a dieta seja formulada de forma que venha a atender o requerimento nutricional dos animais. Afinal, a nutrição nessa fase de preparação difere muito de outras, como a do período seco e também a do período de lactação. E para ser assertivo, a atenção especial deve ser dada ao índice de saúde ruminal (exclusividade Cargill Nutrição Animal), ao nível da energia da dieta, aos limites de inclusão de amido e formulação por proteína.
Aposte nas forragens com maior digestibilidade da fibra, elas são essenciais para potencializar o consumo de matéria seca. Mas também promove o consumo de alguns minerais, pois eles são capazes de estimular o sistema imune, melhorando a saúde e a reprodução dos animais. Mantenha a atenção ao uso de selênio e vitamina E, bem como de fontes de antioxidantes naturais como o ProviE.
A exigência por proteína metabolizável nessa fase é elevada, porém o rúmen não consegue aportar toda a quantidade necessária por meio de microrganismos de proteína microbiana. Com isso, torna-se viável o uso de fontes proteicas by pass, como o Soypass BR.
Conforto
Devemos promover o máximo de conforto para os animais, iniciando-se nas vacas secas! Animais que não têm conforto durante essa fase acabam consumindo menos alimentos. Por isso, é imprescindível promover um espaço com sombra e água fresca. Priorizando água de qualidade, pois este é o nutriente mais importante e o mais esquecido na maioria das vezes.
Recomendamos que haja espaçamento entre os bebedouros d’água em 10 cm lineares por vaca e, isso também se aplica ao espaçamento de cocho, que deve ser de, no mínimo, de 80 cm por animal. A superlotação nessas categorias não é recomendada e, se possível, deve-se separar vacas de novilhas.
Outro ponto de atenção é sobre as estratégias para resfriamento nessa categoria. Passa a ser de grande valia, mesmo que a opção seja a de levar o lote pré-parto para banhos periódicos ao longo do dia na sala de espera.
Secagem das vacas
Devemos respeitar o período seco dos animais. Esse tempo pode variar de acordo com a média do período de gestação das fazendas, sendo que a recomendação mínima é de 55 dias.
Sendo assim, o período de transição é essencial para o sucesso da lactação, produção e, consequentemente, a lucratividade da propriedade. Investir em ações de prevenção neste período certamente aumentará as chances de sucesso na produção e reduzirá os gastos com tratamentos futuros, principalmente de doenças.
Autor: Carlos Azevedo, Coordenador Técnico Comercial de Bovinos de leite da Cargill Nutrição Animal ANH/LATAM