Luma Bonvino, da redação
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Não podemos dizer que é do tipo incomum. 80% da população local têm o seu sangue, ou seja, são mais de 100 milhões. Com toda certeza já viu um desses por ai: ossatura leve, forte, robusta, musculatura compacta e bem distribuída. A cabeça tem formato de ataúde, cara estreita, arcadas orbitárias não salientes e perfil ligeiramente convexo. As orelhas são curtas, com boa simetria entre as bordas superior e inferior, terminando em ponta de lança. O tórax é amplo, largo e profundo. As costelas são compridas e largas, bem arqueadas, afastadas e com espaços intercostais revestidas de músculos e sem depressão atrás das espáduas.
A imponência e a rusticidade chamam a atenção. Não só física, mas também emocional. Dócil, protetor, ativo e facilmente adaptado aos variados climas do Brasil, porque desse tipo, é possível ver em todo território nacional, exceto região sul. E, apesar de fixar raízes principalmente no centro-oeste, esse é do tipo gringo, proveniente da Índia, mais especificamente. Hoje, só no Mato Grosso são mais de 30 milhões, Minas Gerais com 24 milhões, Goiás e Mato Grosso do Sul com mais de 22 milhões, e por vai.
Mas, apesar da excelente adaptação no Brasil, foi necessário um árduo trabalho. Na genética, por exemplo. Essa evolução se deu principalmente por meio do cruzamento dentro e entre as diversas raças existentes, conseguindo ganhos em rusticidade, resistência a doenças e parasitas, desempenho, eficiência e qualidade. Para tanto, contou com empresas apoiadoras, como a Embrapa, pioneira em tecnologias importantes para essa evolução como Programa de Avaliação, criado em 1991, e o Programa de Melhoramento Genético Geneplus-Embrapa, lançado em 1996; o que lhe confere RG brasileiro, já que são várias as conquistas genuinamente locais.
Uma dessas características verde e amarela está em sua alimentação: a pasto. Essa dieta lhe confere alto desempenho com baixo custo e sem uso de proteína animal, mantendo a saúde em dia, livre de doenças. Ao longo do tempo, claro, a preocupação com o que vinha comendo e podendo desempenhar foi tendo algumas alterações. Apesar de ainda seguir a dieta a pasto, utiliza-se de tecnologias nutricionais prezando pela máxima: “sob quaisquer regimes alimentares, sempre se deve priorizar o bem-estar”.
No ciclo da vida, atingem a puberdade aos 18 meses de idade, embora esse fato esteja mais relacionado com o peso do que com a idade. Durante a puberdade, a ocorrência de anormalidades espermáticas é muito alta, diminuindo à medida que se aproxima da maturidade sexual. Em média, atingem a maturidade sexual com cerca de 24 meses de idade. Essa vida reprodutiva pode ir além de 10 a 12 anos. E, como tudo tem o fim, seu ciclo se encerra entre 14 e 48 meses.
E engana-se quem acredita que com o fim está o resultado final. Esse é o começo do seu legado: alto teor de sabor, cobertura homogênea de gordura, uma base genética realmente valorizada, não somente no Brasil, mas em países como Hong Kong e Egito, que exigem sua presença “in natura”.
Valorizado, com diferenciais explícitos, uma longa carreira de trabalho e que ainda continua sendo de extrema relevância à economia local. Todas essas características conferem a esse “profissional” o título de Boi Brasil. Sim, a descrição acima é das raças zebuínas, mais especificamente Nelore, nome que surgiu a partir de um distrito da antiga Província de Madras, Estado de Andra, situada na costa oriental da Índia, onde foram embarcados os primeiros animais para o Brasil.
Segundo pesquisas e histórias, a aparição do primeiro Nelore brasileiro teria ocorrido em 1868 quando um navio, que se destinava à Inglaterra, ancorou em Salvador com um casal de animais da raça a bordo. Assim, no dia 24 de abril, em que o calendário volta suas atenções a essa personalidade, vale a referência ao que definimos como modelo nacional.