Para muitos, ainda pode parecer simples nutrir adequadamente as pastagens: basta escolher um fertilizante e distribuir nos pastos. Com um olhar um pouco mais atento, poderíamos acrescentar ainda um ponto importante: a análise de solo para definir o melhor fertilizante a ser utilizado. Porém, essa lógica segue uma forma de planejar “do começo para o fim”, a qual pode trazer pouco resultado por não estar atrelada às metas do negócio. A prática de adubação de pastagens, assim como as demais, também exige estratégia, planejamento, manejo e muito conhecimento aplicado para se obter o máximo retorno produtivo e financeiro, mas deve ser pensada de maneira oposta: “do fim para o começo”.
Vou explicar. Quando falamos em pastagens, é fundamental ter bem claro qual o objetivo do negócio, o potencial e as limitações do ambiente produtivo, desdobrados num diagnóstico dos índices econômico-financeiros e zootécnicos. Isso porque, no método “do começo para o fim”, podemos simplesmente produzir mais pasto, que pode ser desperdiçado se não for colhido e transformado em produto animal, apenas gerando mais custo e reduzindo o lucro.
Ou seja, precisamos saber a capacidade máxima da atividade no local onde ela está sendo desenvolvida. A situação geográfica determina fatores importantes para o potencial: o clima, o solo, o relevo e a disponibilidade de água. A especificidade – se é pecuária leiteira ou de corte -, a genética e as categorias animais e as espécies e variedades forrageiras também têm uma grande influência na produtividade. Necessitamos também saber da estrutura disponível: máquinas, divisões de piquetes e currais e galpões. Por fim, e mais importante, a disponibilidade de pessoas capacitadas, a gestão da atividade e o método de manejo que está sendo empregado nas pastagens. Apenas com o diagnóstico completo, torna-se evidente o quão próximo o negócio está produzindo, gerando lucro e caixa em comparação ao seu potencial.
Com a clareza do quanto necessitamos e podemos aumentar a produtividade forrageira, partimos para as ações que levarão aos melhores resultados. E é aí que a adubação equilibrada se encaixa perfeitamente, pois vai suportar uma demanda de produção que pode gerar mais resultados, desde que associada a um bom manejo da pastagem. Sabendo quanta forragem precisamos produzir, torna-se decisivo conhecer a(s) forrageira(s) que serão ou estão sendo utilizadas, a curva de crescimento do pasto ao longo do ciclo e os requerimentos nutricionais das plantas.
No Sul do Brasil, por exemplo, predominam os azevéns e aveias nas pastagens de inverno. Segundo o manual de adubação de pastagens Yara Grassland Plantmaster, o azevém absorve do solo, em média, 21 kg de Nitrogênio (N), 3 kg de Fósforo (P), 23 kg de Potássio (K) e 3 kg de Enxofre (S) por tonelada de matéria seca de forragem produzida. O diagnóstico da fertilidade do solo, por sua vez, revelará o que ele já possui de nutrientes disponíveis. Da diferença entre a quantidade demandada e a disponibilidade no solo, considerando a eficiência dos fertilizantes, obtemos a indicação de quanto aplicar de cada nutriente, bem como a necessidade e a quantidade de calcário a ser aplicada, algo extremamente importante. Com isso, definimos o componente “Dose” do “Manejo 4C” para o uso eficiente dos fertilizantes – Dose, Época, Local e Fonte corretos. O Manual de Adubação para o RS/SC recomenda aplicar 30 kg de N, 10 kg de P2O5 e 10 de K2O para cada tonelada de matéria seca de forrageira de inverno para pastejo a ser produzida considerando a manutenção da fertilidade do solo. Outro nutriente importantíssimo a ser fornecido via fertilizante é o Enxofre (S), sendo suficiente aplicar 4 kg por tonelada de matéria seca dessas espécies de pasto. Quanto ao local e à época de aplicação dos fertilizantes, estes podem variar consideravelmente de acordo com a formatação e com as circunstâncias de oferta e demanda do sistema produtivo.
Enfim, a fonte (a qualidade do adubo) tem papel decisivo no resultado. Hoje, estão disponíveis no mercado soluções de alta tecnologia, com todos os nutrientes no mesmo grânulo, o que impossibilita a segregação dos nutrientes, levando a uma uniformidade da pastagem. Além disso, os fertilizantes com nitrogênio nas formas nítrica e amoniacal já fornecem o N exatamente como as plantas absorvem, promovendo maior produção de raízes e parte aérea (folhas), além de praticamente não apresentarem perdas de N por volatilização, processo que ocorre comumente com a ureia. Tais produtos também podem fornecer P de alta eficiência, além de K e S disponíveis para a absorção pelas raízes das plantas. Todas essas tecnologias elevam substancialmente a eficiência de uso dos nutrientes (kg de forragem produzida por kg de nutriente aplicado), a produção total de forragem e a produção animal, contribuindo fortemente para a lucratividade do negócio pecuário.
Como vimos, nesse contexto, não é tão simples obter os melhores frutos da prática de adubação de pastagens. Partindo “do fim para o começo”, diagnosticamos o negócio, o ambiente e o sistema produtivo e definimos as metas de receitas, de custos, de produção animal e forrageira. Assim, o fertilizante de alta tecnologia associado a um criterioso manejo das pastagens entra como uma mola propulsora de eficiência e resultado, alavancando e tornando lucrativas a produção de carne ou de leite a pasto.
Fonte: Diego Guterres atua como Coordenador Agronômico Sênior da Yara Brasil e é Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tem MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas e é pós-graduado em Nutrição e Adubação Racional de Culturas de Lavoura no Instituto de Ciências Agronômicas de Passo Fundo (RS).