Natália Ponse, da redação
“Como comunicar os benefícios da pecuária ao consumidor de carne bovina?”. O questionamento vai muito além de um painel durante a InterCorte São Paulo. Com bagagens diversas, cinco profissionais de comunicação elencaram as razões para se apostar em estratégias potencializadas de comunicação, divulgando os benefícios que o setor gera para as pessoas e para o meio ambiente.
Estabelecido como detentor do maior rebanho comercial do mundo e um dos maiores produtores de carne bovina e de grãos, conservando aproximadamente 60% do território com vegetação nativa, sendo que grande quantidade dessas áreas estão dentro das propriedades Rurais (Reserva Legal e APPs), o Brasil, segundo o diretor de Novos Negócios e Sustentabilidade do Grupo Roncador (Querência/MT), Caio Penido Dalla Vecchia, precisa começar a contar “boas histórias reais”. “O pecuarista está ajudando a garantir a biodiversidade da fauna e flora da região. Precisamos buscar essas histórias e divulgá-las nos jornais, séries, novelas e mídias sociais”, explica. Ele completa que, com o advento das mídias digitais, a informação transita com muito mais liberdade pelo mundo, e as boas histórias terminam conquistando espaço em todos os tipos de publicações.
Outro participante do painel, o jornalista e fundador/diretor da Oscip Amigos da Terra – Amazônia Brasileira (São Paulo/SP), Roberto Smeraldi, salienta que a comunicação precisa ter uma narrativa que une o produtor à cadeia produtiva e aos frigoríficos, a fim de apontar os benefícios, seja na saúde, no meio ambiente, na economia ou na sociedade. “O consumidor não consegue separar um bom produto de um produto que faz bem ao mundo, para ele o ‘bom’ é único e as duas coisas têm de ir juntas; e com isso vai ser possível promover produto de qualidade mostrando que o animal inteiro é bom e valioso, não apenas alguns cortes. Dessa forma se promove consumo mais sustentável e ao mesmo tempo agrega mais valor no boi”, complementa. Para ele, a comunicação coordenada deve ser feita no dia a dia, e não apenas em eventos específicos.
O vice-presidente do Grupo ABC (São Paulo/SP), Andrew Greenlees, concorda que para atingir tal meta é preciso estabelecer estratégias eficientes e permanentes de comunicação. “É necessário o desenvolvimento de uma estratégia proativa, destacando as características positivas da pecuária sustentável. Existe espaço na imprensa para trabalhar esses temas e para ocupá-lo a comunicação tem que ser feita de forma organizada”, conclui, ressaltando que este é um trabalho para se pensar em longo prazo.
Informar e lidar com os influenciadores de informação é, antes de tudo, uma ação política, de acordo com o consultor Web, arquiteto de Informação e roteirista de mídias digitais, Cacau Guarnieri, dando exemplos de ações do setor que estão caminhando para uma nova forma de comunicação, como a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ, Uberaba/MG) e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA, Brasília/DF). “A tendência é que o setor venha a utilizar novas mídias e os relatórios de inteligência para estabelecer uma nova relação com a sociedade e seus públicos-alvo. O setor vem despertando. Ainda devagar, ainda resistente, mas de forma inexorável”, aponta.
O diretor Presidente do Instituto Akatu (São Paulo/SP), Helio Mattar, acredita que o setor precisa tomar a frente da informação. Para ele, é essencial que o setor de produtores de carne assuma papel protagonista na identificação e implementação de soluções para combater o problema do desmatamento e às mudanças climáticas, e de levar essas informações aos consumidores. “Pensando nele e no consumo consciente, quanto mais transparente for a comunicação, melhor se poderá fazer escolhas em direção a uma vida mais sustentável, com mais saúde e bem-estar”, diz e ressalta: “a agenda indispensável é a transparência”.
Desperdício de alimentos. Outro ponto chave na discussão do painel foi o desperdício de alimentos, que segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, Roma/Itália), atinge 348 mil toneladas de alimentos inutilizados por dia, na América Latina. A metade do desperdício ocorre no manuseio e no transporte, 30% nas centrais de abastecimento, 10% durante as colheitas e 10% nos supermercados e nas casas dos consumidores. Mattar, do Instituto Akatu, evidencia que além do problema social, o desperdício de alimentos traz impactos gigantescos ao meio ambiente. “É só imaginar que junto com o alimento perdido, jogamos fora água para produzi-lo, energia elétrica, combustíveis utilizados para o transporte e colheita, entre inúmeros outros recursos, além de dinheiro e mão de obra”, conclui. Para ele, a promoção de mais debates, produção de cases e divulgação de dados sobre a produção sustentável da pecuária deve ser cada vez ser mais inserido em eventos como a InterCorte.
Vecchia, do Grupo Roncador, lembra que, no entanto, é preciso registrar que as maiores causas do desperdício estão da porteira para fora, com as deficiências em infraestrutura de transporte, na cadeia de distribuição e no consumo irracional. “É este o público que precisamos atingir, desmistificando a imagem que ainda prevalece sobre a pecuária em alguns setores da sociedade, por absoluto desconhecimento da revolução em curso no setor”, finaliza.