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Como a epidemiologia atua pela suinocultura?

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Natália Ponse, da redação

natalia@ciasullieditores.com.br

Sanidade é, de longe, um dos principais pilares da produção de proteína animal. É ela a responsável por manter a saúde dos animais e proporcionar um bom produto final para o consumidor, além, é claro, de ser um dos grandes atrativos para o comércio exterior. A comercialização de carne suína in natura, por exemplo, atingiu receita de US$ 101 milhões no primeiro trimestre deste ano.

Um componente essencial para o sucesso da suinocultura brasileira no mercado mundial é o trabalho epidemiológico. A epidemiologia estuda os padrões de doença, observando populações de animais e realizando inferências (raciocínio no qual dados obtidos em amostras são estendidos para a população). Portanto, a epidemiologia de uma doença em certa população é análoga ao estudo da patogenia da doença em um indivíduo e, assim sendo, a epidemiologia é a ciência fundamental para a medicina em populações.

Patogenia é o estudo do caminho percorrido pelo agente etiológico desde a sua entrada no organismo animal até a sua saída considerando as lesões e sinais clínicos que causa durante este percurso e este procedimento é conhecido como medicina clínica orientada para o doente. Diferentemente, a epidemiologia é o estudo do caminho percorrido pelo agente etiológico desde a sua entrada em uma população até a sua saída considerando a contagem de doentes e mortos durante este percurso porque o procedimento está direcionado para a população raciocinando em termos de saúde e doença.  

O trabalho da epidemiologia pela suinocultura foi tema de um estudo acadêmico realizado por grandes nomes do setor de proteína animal brasileiro: Masaio Mizuno Ishizuka (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP), Fernando Gomes Buchala (Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo/CDA), José Roberto Bottura (diretor Técnico da Associação Paulista de Avicultura) e Priscila Maciel (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina/CIDASC).

Na suinocultura, em criações intensivas, doenças entéricas em animais jovens podem ter como causas a pesada contaminação do ambiente por falta de limpeza e desinfecção durante a ocupação. Enquanto na medicina, a saúde é referida como completo estado de bem-estar físico, mental e espiritual, em medicina-veterinária a produtividade é o substituto da medida de saúde. “Para população de animais domésticos, a simples presença ou ausência de doença é menos importante do que a prevalência com que esta doença ocorre e seu subsequente impacto na produtividade. Neste contexto, a menos que a doença comprometa a produtividade, a simples presença dela não é fator limitante da produtividade”, esclarece o estudo.

Outros fatores (como decisões sobre manejo, instalações de alojamento inadequadas, ou práticas de alimentação inadequadas) podem apresentar grande impacto na produção em muitas circunstâncias. A associação desses fatores causais com o status de saúde pode ser investigada similarmente aos estudos de impacto de doenças na produtividade utilizando métodos de estudos epidemiológicos que serão mencionados posteriormente.   

Portanto, mesmo que o indivíduo seja a unidade de interesse (por ex. estudo do efeito da vacinação no status sanitário de indivíduos), técnicas epidemiológicas estão limitadas ao grupo de indivíduos (categoria de indivíduos) do que em um indivíduo. Os epidemiologistas observam os indivíduos dentro de um grupo, mas as conclusões são baseadas na sua experiência com este grupo; e a inferência é sempre para o grupo, embora em algumas circunstâncias seja possível inferir para indivíduos.

A maioria dos trabalhos epidemiológicos é quase sempre conduzida a campo (propriedade, hospitais de suínos silvestres, abatedouros, municípios, Estado, nação etc.) do que em laboratório. Os dados de estudos epidemiológicos pela observação relacionados às situações de campo podem ter apoio de laboratório. “Em outro sentido, a epidemiologia é um instrumento de diagnóstico para populações analogamente aos instrumentos de diagnóstico disponíveis na clínica médica”, pontuam os pesquisadores.

O objetivo maior da epidemiologia é pragmático e visa obter informações sobre a ecologia e história natural de doenças, ou seja, oferecer dados para que se adote medidas racionais de prevenção ou de controle de doenças em populações animais. Para a população de suínos de exploração econômica, envolve a otimização da saúde (produtividade) e não necessariamente redução da prevalência da doença e não difere do objetivo das disciplinas médicas.

O escape de doenças de seus ecossistemas naturais. Embora doenças sejam conhecidas desde a mais remota antiguidade, o reconhecimento da maioria delas é muito recente. Conforme explicam os pesquisadores, muitas doenças estão ultrapassando seus limites geográficos e espectro de hospedeiros naturais provocando o “escape” cujas razões podem ser a introdução de novas espécies de hospedeiros ou agentes de doença (peste suína africana); introdução de novas fontes de infecção (Sêneca vírus); alteração de manejo extensivo para intensivo (doenças e infecções intestinais, respiratórias e nervosas); aproximação de ecossistemas anteriormente afastados; introdução ou alteração de tecnologias pelo homem (disseminação da Doença de Aujeszky e Peste Suína Clássica); comércio internacional de produtos de origem animal (vírus da Peste Suína Clássica e Africana, PRRS, Sêneca vírus e diarreia suína epidêmica); além de mutação ou recombinação genética (vírus da Peste Suína Clássica).

O desafio continua. O grupo de especialistas elenca os tipos de doenças que representam um contínuo desafio para a medicina-veterinária, principalmente quando ocorrem na forma de epidemias:

  1. Doenças de etiologia complexa: doenças causadas por um único agente podem ser facilmente identificadas embora persistam em países desenvolvidos (salmoneloses, leptospiroes, babesioses e coccidioses). As doenças de etiologia complexa (infecções mistas) ou multifatoriais (interação de agente infeccioso com fatores causais ou predisponentes) são muito comuns na etiologia da rinite considera-se a participação da Pasteurella multocida e Bordetella bronchiseptica (tipo D) e os fatores predisponentes mais comunas são superlotação das instalações, mistura de leitões provenientes de diferentes reprodutoras.  
  2. “Doenças subclínicas”: processos de baixo limiar de reconhecimento clínico (sinais pouco evidentes) afetam sobremaneira a produtividade, como a colibacilose, causando emagrecimento devido diminuição de apetite.
  3. Doenças não infecciosas: na medida em que doenças infecciosas são controladas, emergem as não infecciosas como, por exemplo micotoxicoses, doenças carenciais.
  4. Doenças relacionadas com manejo e condições do meio ambiente: na suinocultura parecem desempenhar importante papel e nem sempre é fácil comprovar a associação entre doença e fatores ambientais e de manejo:

Fator ambiental: umidade excessiva, concentração elevada de amônia, presença de moscas, roedores principalmente;

Fator de manejo: aglomeração, mistura de animais de diferentes idades e procedência, funcionários que criam animais (suínos  ou suínos) em suas casas, precárias condições de biosseguridade.

  1. Doenças por microrganismos saprófitas: podem estar relacionados com doenças entéricas e são considerados oportunistas que determinam doença em presença de fatores desencadeantes e que falham em reproduzir o Postulado de Koch. Tanto na avicultura como na suinocultura tem-se doenças como colibacilose causada pela coli, habitante normal do intestino que pode manifestar sua patogenicidade devido à elevada carga infectante pela falta de limpeza e desinfecção durante a ocupação (suínos) ou manejo inadequado de cama (frango de corte); micotoxinas (solo é o habitat da forma esporulada)
  2. Novas estratégias de controle: investigação de doenças em populações e sistemática de colheita, organização, análise e interpretação de informações de campo estão sendo acrescidas às metodologias convencionais de controle e doenças. Colheita de informações sobre doenças data do séc. XVII quando John Graunt recolhia dados de mortalidade humana na Inglaterra. Metodologias modernas incluem abordagens de monitoramento, vigilância e investigação exaustiva de doenças em particular. Uma técnica mais moderna e aplicada ao nível de propriedade é a compilação de indicadores de saúde e de produtividade como um instrumento de aumentar a produtividade pelo aumento da saúde do rebanho. Como exemplo, está a vigilância de brucelose, peste suína clássica, doença de Aujeszky na GRSC (Granja de Reprodutores Suínos Cerificada), monitoramento de leptospirose e sarnas em GRSC.