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Carcinicultura brasileira tem menos doenças que os seis principais players

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Natália Ponse, de Natal (RN)

natalia@ciasullieditores.com.br

A região Nordeste do Brasil, embora concentre 98% da área de cultivo de camarões marinhos do País e possua um potencial de exploração superior a 1.000.000 hectares, vem utilizando apenas 30.000 hectares (0,3%) desse todo. Ainda assim, respondeu por 99,7% da produção nacional de camarões marinhos cultivados em 2016.

“Evidentemente que o Brasil, detentor das mais favoráveis condições climáticas, infraestruturais e locacionais em relação aos mercados da União Europeia e EUA, possui amplas condições para se tornar líder mundial desse estratégico setor”, ressalta o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC, Natal/RN), Itamar Rocha, uma das principais vozes representativas dos produtores no País. O assunto foi abordado durante palestra na Feira Nacional do Camarão (Fenacam) deste ano, na capital potiguar.

A liderança de que Rocha fala já foi realidade no passado. Em 2003, com 58.455 toneladas exportadas, o Brasil ocupou o primeiro lugar das importações de camarão pequeno e médio dos EUA e, em 2004, esteve no topo da lista de embarques de camarão tropical para a União Europeia – em ambos os mercados, o camarão equatoriano ficava em 3º lugar.

O que houve de lá para cá? A resposta: os enormes desafios enfrentados pela carcinicultura brasileira. Primeiro, basta comparar a produção brasileira que aumentou de 2016 (60.000 toneladas) para 2002 (65.253 toneladas). Este salto de pouco mais de cinco mil toneladas, quando se compara ao desempenho do Equador, é pouco. O país viu sua produção de camarão pular de 63.600 toneladas em 2002 para 406.334 toneladas em 2016. Cinco mil toneladas versus quase trezentas e cinquenta mil.

Acontece que nos anos seguintes, a combinação da ação antidumping dos EUA, associada à política cambial desfavorável sem a mínima compensação financeira por parte do governo brasileiro e ao mercado interno altamente favorável, fez com que o camarão cultivado no Brasil saísse completamente do mercado internacional.

Quando se olha para o exuberante mercado internacional e a potencialidade produtiva brasileira (que conta com áreas de independência das chuvas regulares para seu cultivo), verifica-se que o Brasil está desperdiçando um verdadeiro mar de oportunidades nesta área, “não só para a geração de emprego e renda mas, acima de tudo, par a criação de uma nova ordem economia e social no seu meio rural, com real potencial e condições para contribuir de forma positiva para reversão do preocupante êxodo rural”, explica Itamar Rocha.

A qualidade sanitária da produção verde e amarela também é invejável. Basta olhar para os principais players mundiais da carcinicultura, as doenças que seus setores abrigam e aquelas que os brasileiros enfrentam. Primeiro, vamos observar estes países no ranking mundial (vamos analisar, além do Brasil, a China, Indonésia, Vietnã, Índia, Equador e Tailândia).

“Basta analisar o Equador, que explorando 220.000 hectares produziu 403.000 toneladas com exportações de 363.000 toneladas; ou com o Vietnã, que explorou 550.000 hectares, produzindo 550.240 toneladas, com exportações de 425.000 toneladas”, aponta o presidente da ABCC.

Falando em sanidade, o Equador é um dos campeões da nossa lista em número de doenças. Com produtividade de 1,85 toneladas/hectares/ano, o país registra treze em seu polo produtivo – dessas, apenas três constam no território brasileiro (IHHNV-1, WSSV E NHP-B). A Tailândia, com produtividade de 4,9 toneladas/hectare/ano, registra catorze enfermidades no território (duas presentes em solo nacional – IHHNV-1 e WSSV). Duas a mais do que a China, que cataloga uma das doenças brasileiras, a WSSV, numa área de cultivo de 800.000 hectares, registrando 2,1 toneladas/hectare/ano de produtividade.

O presidente da ABCC prevê que o cenário de liderança mundial na exportação de camarão pode ficar a cargo do Brasil. “Possuímos uma base produtiva e uma massa crítica de experientes produtores, com conhecimentos técnicos e mercadológicos. Dadas as condições e apropriados incentivos, em um curto espaço de tempo, o País poderá voltar a ocupar uma posição de destaque no mais dinâmico e importante segmento do agronegócio mundial”, finaliza Itamar Rocha.