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Bastos (SP) une perseverança japonesa à garra característica do brasileiro

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Natália Ponse, da redação

natalia@ciasullieditores.com.br

Superação, persistência e trabalho em grupo. Essas são características do trabalho japonês, reconhecido mundialmente pelo empenho na corrida do caminho em busca de resultados. Quem vê o Japão hoje, nem consegue imaginar que o país um dia chegou a ser considerado um povo atrasado e inferior aos outros.

Por ser uma ilha onde 70% de suas terras são tomadas por montanhas e vulcões, não havia muitos recursos naturais e pastagens. A fome e a pobreza eram duas coisas que faziam parte do Japão naquela época. Pra piorar a situação, a Segunda Guerra Mundial deixou o país destruído e sem rumo, sem contar os sucessivos episódios de desastres naturais que acometem o Japão de tempos em tempos, como terremotos e tsunamis.

No entanto, o país conseguiu superar todas as dificuldades e com muita obstinação investiu em tecnologia e indústria automotiva e conseguiu estar hoje entre as maiores potências do mundo, mesmo com algumas instabilidades econômicas pelo percurso. Em suma: por pior que seja o obstáculo, a nação japonesa sabe dar a volta por cima e não desiste fácil.

Um exemplo disso e que está aqui no Brasil foi o nascimento, em 18 de junho de 1928, de uma grande potência avicultora brasileira. Com nome originário da Fazenda Bastos, cujas terras foram chão para a criação do município, a cidade que hoje é conhecida como a “Capital do Ovo” teve como ponto de partida a ação de Senjiro Hatanaka, fundador e enviado pelo governo japonês para procurar terras que pudessem receber imigrantes japoneses.

Mas, antes de ser a potência da avicultura, Bastos (SP) também foi terra de culturas como o café, algodão e a sericicultura, último grande destaque antes do início da criação de aves. Conforme explica a consultora em Saúde Animal, Masaio Mizuno Ishizuka, a atividade se deu em razão da natureza do solo arenoso e abundância de pés de amoras, que são favoráveis para o desenvolvimento do bicho da seda (Bombyx mori). O governo japonês investiu não só na sericicultura, mas também na saúde dos colonos e na educação de seus filhos, visando o ensino formal do Brasil e da língua japonesa. No entanto, por volta de 1945, a Fiação de Seda Bratac Ltda (conhecida também como Sociedade Colonizadora Brasileira) entrou em declínio após o governo brasileiro proibir a exportação de seda para o Japão.

Foi neste momento, depois da 2ª Grande Guerra, que a sericicultura foi substituída pela avicultura, de acordo com Mizuno, principalmente pelo sentimento de união. “A tendência para a avicultura foi liderada por Kensuke Watanabe, tornando a cidade o berço da avicultura brasileira com o primeiro incubatório no Brasil, consequentemente, iniciando uma fase de prosperidade”, explica Mizuno.

As primeiras galinhas provavelmente eram caipiras, com alimentação a base de grãos sem os aditivos premixes vitamínicos e também com nenhuma vacina na época. Depois surgiram as linhagens genéticas desenvolvidas na Europa, EUA e Japão. A nutrição deu um salto com muita tecnologia e suplementação de vitaminas, minerais e aminoácidos.

Hoje existem galpões altamente tecnificados, mecanizados, automatizados e climatizados. É largamente disseminado o uso de vacinas vetorizadas e outras tecnologias. Premixes vitamínicos, minerais e aminoácidos são apenas o básico. Estamos na era dos prébióticos, próbióticos, simbióticos, acídos orgânicos, óleos essenciais, adsorventes de micotoxinas e outras ferramentas para melhorar a qualidade dos ovos.

“No passado eram mais de 300 famílias colonas criando galinhas. Hoje são cerca de 60 empresas familiares se esforçando para serem competitivas e competentes para sobreviver no difícil e desafiador mercado de ovos”, afirma o administrador da Granja Maki, uma das principais da cidade, Christian Jideyuki Maki.

Passando pela avicultura familiar na época, a partir de 1957 a região descobriu sua vocação econômica: a avicultura de postura. Hoje, o município é reconhecido internacionalmente como um dos maiores produtores do setor de postura do mundo, segundo informações da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA, São Paulo/SP).

Fama que se prova em números. Bastos representa, atualmente, 25% da produção de ovos do Brasil. De acordo com o Sistema Gedea (banco de dados das explorações animais e vegetais) do Centro de Estudos e Desenvolvimento Sérgio Abreu (Cedesa), Bastos e o “Bolsão de Bastos” (que reúne a produção de cidades vizinhas), respectivamente, congregam aproximadamente 24% e 43% dos estabelecimentos avícolas, com capacidade de alojamento para 40% e 68% da capacidade de alojamento de aves do Estado. De acordo com a ABPA, em 2016 foram produzidos, aproximadamente, 39,2 bilhões de unidades de ovos e São Paulo é responsável por 33% da produção de ovos do Brasil. Ou seja, São Paulo foi responsável pela produção de mais de 12 bilhões de unidades de ovos em 2016 – muito disso se devendo à produção bastense.

O município tem o maior plantel de galinhas de postura do País, sendo aquele com a maior produção de ovos do Brasil e, por isso, além de ser chamada de “capital do ovo”, também é a sede da Festa do Ovo, que reúne uma exposição com inovações e produtos utilizados no setor aviário, além de shows e entretenimento em geral para a população da região.

Para fomentar ainda mais a atividade e afastar a possibilidade da morosidade, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (SAA, São Paulo/SP) mantém em Bastos a Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (UPD), ligada ao Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola, do Instituto Biológico (IB), da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta). “A UPD de Bastos é credenciada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, Brasília/DF) para realizar análises na área de doenças de aves, em amostras oriundas do controle oficial, como as micoplasmoses, salmoneloses, DNC, IA e LTI. Atualmente, estão implantadas as técnicas de análise sorologica e molecular (PCR) para IA e LTI”, explica o diretor do Cedesa, Luciano Lagatta.

O diretor do Cedesa ainda complementa informando a ação realizada pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária, por meio de chamamento público junto à Associação Paulista de Avicultura (APA, São Paulo/SP), de atividades que envolvem vigilância epidemiológica (ativa e passiva) para as principais doenças de interesse na avicultura, como o inquérito soro-epidemiológico para a Laringotraqueíte Infecciosa das Aves, o monitoramento para detecção de salmoneloses e monitoramento em aves de descarte para Influenza Aviária e Doença de Newcastle.

A biosseguridade, inclusive, é um dos pontos fortes na produção daquela região. Tudo começou, conforme explica Masaio Mizuno Ishizuka, em meados de 2015 com a crise de Influenza Aviária nos EUA. “Os produtores decidiram atender ao decreto do Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ao introduzir um Programa de Biosseguridade na região de Bastos, envolvendo 134 estabelecimentos avícolas, de forma planejada, executada de forma organizada e avaliada adequadamente”, informa.

O diretor Executivo da APA, José Roberto Bottura, categoriza: “Os produtores têm a consciência de que, caso não preservem, eles perderão tudo. Então essa conscientização fez com que se investisse cada vez mais em biosseguridade para a prevenção de todas as possíveis doenças, voltando os olhos também para a modernização”. O coordenador de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo, Fernando Gomes Buchala, complementa: “Temos um convênio com a APA para apoio técnico e operacional as atividades de sanidade avícola desenvolvidas pela CDA, em especial a nossa regional de Tupã (SP)”.

A avaliação priorizou as doenças respiratórias. Dentre os procedimentos laboratoriais, selecionou-se o Mycoplasma gallisepticum por se tratar de um constante desafio e por se dispor de kits que possibilita a interpretação dos resultados relacionando com o conhecimento da imunopatogenia da doença. “À época da introdução do programa eram largamente utilizados antibióticos na tentativa de minimizar a ocorrência de doenças respiratória e atualmente, o seu emprego atinge valores irrisórios”, complementa a especialista.

Todo o fomento e vontade de fazer crescer a atividade, fundamentados na perseverança e persistência, são herança daqueles que iniciaram a história da Capital do Ovo. Conforme reforçam os especialistas entrevistados, a cultura japonesa permanece nas mãos daqueles que constroem a atividade dia a dia. “Garra, perseverança e acreditar naquilo que se está fazendo. Na medida em que a atividade foi dando certo e foi se consolidando, a necessidade de modernização e crescimento é inerente do setor e foi encontrando esse reconhecimento, abrindo-se ao mercado e com perspectivas de investimento”, conclui o diretor Executivo da APA.

Fernando Homes Buchala afirma que a cultura predominante em Bastos se caracteriza pela grande liderança dos representantes da comunidade e da cadeia produtiva. “Indica disposição para o relacionamento com as autoridades públicas e esforço coletivo para atendimento das normas e exigências do ponto de vista de saúde animal – fato que proporciona a cidade ser um grande polo de produção de ovos e promover uma busca contínua pela qualidade do ovo”, fala o coordenador de Defesa Agropecuária. Parte mais próxima da produção, Christian Hideyuki Maki crê que a maior influência japonesa na atividade foi a persistência. “Aguentamos as dificuldades, comemos migalhas, mas, não desistimos. Hoje a maioria dos produtores bastenses está bem consolidada e forte na atividade”, celebra.

A consultora em Saúde Animal, Masaio Mizuno Ishizuka, aponta que a força de Bastos está na esperança do sucesso: “Não havia outro sentimento a não ser vencer crises, ou seja, ‘posso morrer, mas jamais desistirei’”. Ela ainda complementa que “o desafio pela sobrevivência em terra estranha conduz os homens a se unirem pela gratidão da acolhida, pela solidariedade visando o bem comum e pela generosidade para com os mais necessitados de apoio. Os produtores desta cidade lutam o bom combate, continuam na carreira que a eles foi proporcionada e mantém a fé por dias melhores”, finaliza a especialista.

Dia 13 de outubro é dia de comemorar, mundialmente, o alimento mais democrático da alimentação do brasileiro. Rico em nutrientes e de fácil acesso, o ovo é base de uma variedade imensa de receitas que engrandecem a alimentação e, mais ainda, é raiz de uma atividade que cresce cada vez mais. Representado aqui por Bastos (SP), a Capital do Ovo, este dia é celebrado pela feed&food junto à ATI Plasson, que parabenizam todos os produtores que se preocupam com tanto esmero em fornecer um produto de qualidade e sanidade impecáveis!