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Cientista Nobel da Paz propõe modelo brasileiro como solução 

Para Rattan Lai, programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) ajudaria outros países
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Durante a 78ª Semana Oficial de Engenharia e Agronomia (Soea), realizada em Gramado (RS), o cientista indiano radicado nos Estados Unidos, Rattan Lal, co-laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007 e vencedor do Prêmio Mundial da Alimentação em 2020, propôs que o programa brasileiro de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) servisse como modelo para outros países pobres e em desenvolvimento.

O Programa ABC, por meio de juros mais baixos, financia ações de recuperação de pastagens degradadas, plantio direto na palha e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), dentre outras práticas conservacionistas e que contribuem para redução das emissões de gases de efeito estufa. 

Somente na savana africana, segundo Lal, há 193 milhões de hectares de pastagens e 54 milhões de terras agrícolas que poderiam ser beneficiados pela moderna tecnologia agropecuária tropical brasileira, devido às similaridades dos biomas.

“O sucesso do programa ABC precisa ser traduzido,extrapolado e amplificado para países em desenvolvimento ao redor do mundo. O milagre do Cerrado é um exemplo do que pode ser feito na África. Acredito que os países dos Brics, juntos, podem fazer uma grande diferença”, afirmou o cientista.

Dizendo-se otimista em relação ao futuro, Lal entende que o Brasil não deve se contentar em ter uma agricultura rotulada como carbono neutro. “A meta não é zero emissão, mas emissão negativa”, defende. 

Ele conta que sua equipe enviou um documento para os formuladores da Farm Bill dos Estados Unidos, em que defendem o pagamento de 50 dólares por acre por ano pela adoção de tecnologias conservacionistas que sequestram carbono no solo. “Se isso acontecer, espero que o Brasil siga no mesmo caminho”, enfatizou o cientista. 

Rattan Lal falou sobre o assunto na Semana Oficial de Engenharia e Agronomia (Foto: reprodução)

Quando questionado sobre o ensino da agricultura tropical praticada no Brasil e o quanto isso colaboraria para a “competição” entre os países, o cientista respondeu: “Vou usar um ditado em sânscrito, a linguagem ancestral, que estudo e gosto muito. Somente duas palavras: जगत् कुटुम्बम् अस्ति. ‘O mundo é uma família’. More você no Brasil, na África ou índia, somos todos uma só família. E quando um membro da família está passando fome, a família deve cuidar dele. Então, nossos irmãos e irmãs em qualquer lugar do mundo, se estão precisando de comida, e o Brasil tem a capacidade científica de produzir mais comida, o Brasil tem o dever moral de ajudar os outros membros da família”. 

Ele ainda reforça que o próprio Brasil já foi ajudado e que, agora, é hora de ser recíproco: “O Brasil vai ganhar, e não perder. Vai ganhar economicamente, socialmente, moralmente, culturalmente. O Brasil tem população africana, vocês sabem disso”.

Lal ainda enfatiza que a guerra na Ucrânia afetou o mundo todo, especialmente a África, porque o mundo é interdependente, interconectado. “A paz e a tranquilidade mundial nunca chegarão enquanto houver algum lugar em que as pessoas passam fome. Quando as pessoas estão famintas e desesperadas, e tem um fogo queimando no fundo de seus estômagos vazios, isso é causa de guerra, de desespero. As pessoas se dispõem a fazer qualquer coisa. Não é possível ter paz com o estômago vazio. Se o Brasil ajudar a África, ajudar as nações do Caribe, os países andinos, isso pode elevar o prestígio do Brasil. Torná-lo um líder. É uma oportunidade que não deve ser perdida”.

Fonte: Valor Econômico e Gazeta do Povo, adaptado pela equipe FeedFood.

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