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10 passos para controlar a Salmonella na granja

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Natália Ponse, da redação

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O que é, o que é: afeta humanos e animais, pode ser transmitida por meio de alimentos e é constante alvo de barreiras comerciais. Não é preciso pensar muito para resolver esta charada: a Salmonella tem origem multifatorial, podendo ter diversas fontes para entrar em uma granja. As aves podem atuar como reservatórios, e podem ser afetadas por diferentes sorovares (espécies da bactéria). Alguns causam sinais clínicos no animal, como a Salmonella Gallinarum (SG) que causa o tifo aviário, e a Salmonella Pullorum que é responsável pela pulorose. Essas raramente afetam os seres humanos. Aquelas que preocupam são os sorovares chamados paratificos, que não causam sintomas nas aves, mas podem causar diarreia, febre, dores de cabeça e vômitos em seres humanos – como a Salmonella Enteritidis e a Salmonella Typhimurium.

Comum do trato digestivo de animais, o foco é manter sob controle as sorovares que causam doença a seres humanos ou que impactam a saúde de aves, pelo prejuízo à produção avícola. “A Salmonella sp sempre existiu e sempre existirá, não por ser uma epidemia, mas por ser uma ocorrência endêmica e frequente alvo de barreiras sanitárias na comercialização de produtos entre os países. Nosso papel é produzir alimentos tendo esta bactéria sob controle, e isso o Brasil faz”, afirma a pesquisadora em sanidade avícola da Embrapa Aves e Suínos, Sabrina Castilho Duarte.

A especialista explica que o Brasil continua realizando o monitoramento e controle de salmonela nos estabelecimentos avícolas pela adoção de medidas contidas no Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), que possui normativas com objetivo de promover a prevenção das principais salmonelas de importância em saúde pública nos produtos avícolas brasileiros, bem como o controle e a erradicação das principais salmonelas de importância em saúde animal nos plantéis de aves.

“As ações de monitoria e controle iniciam-se nas granjas e são realizadas também nos estabelecimentos de abate e processamento de carnes e ovos. Preveem coletas periódicas de amostras com execução de análises que são realizadas por laboratórios oficiais, credenciados e de autocontroles das empresas a depender do tipo de estabelecimento avícola”, conta Duarte, lembrando que o programa com foco no controle e monitoramento de Salmonella sp. em carne de frangos e perus é realizado desde 2003.

O trabalho de monitoramento e controle da enfermidade no Brasil é realizado de acordo com Instruções Normativas (IN). A IN 70, recentemente atualizada por meio da IN nº 20 (2016), contempla a adoção de medidas focadas principalmente para o controle da presença de Salmonella Typhimurium e Salmonella Enteritidis, sorovares de salmonela que podem ser veiculados por produtos de origem avícola e afetar a saúde humana. Já o controle e erradicação de salmonela em estabelecimentos de reprodução é realizado por meio da IN nº 78 (2003), contemplando ações para os mesmos sorovares anteriormente descritos, incluindo a Salmonella Gallinarum e a Salmonella Pullorum.

Recentemente a IN nº 78 foi atualizada pela IN nº 41 (2017). “O objetivo das ações empregadas é reduzir a prevalência da bactéria em produtos de origem avícola oferecendo alimentos mais seguros aos consumidores brasileiros e aos compradores de nossos produtos no exterior, bem como reduzir também sua prevalência no campo”, conta a especialista da Embrapa Aves e Suínos.

Sobre a Salmonella, é importante frisar: as ações minimizam o risco ao consumidor, mas não garantem a eliminação da bactéria. Por isso, a recomendação é que os alimentos devem ser sempre consumidos apenas após o processamento térmico (cozimento acima de 70ºC). Carne de frango e ovos não devem ser consumidos crus, e em caso de preparo em utensílios de cozinha a higiene destes antes da manipulação de outros alimentos que serão consumidos crus é essencial para a prevenção da enfermidade para os seres humanos.

Como a bactéria é de ampla distribuição e existe mais de 2.600 sorovares, sua presença em granjas tem origem multifatorial e o Brasil deve continuar realizando diversas ações para controlar a presença deste patógeno. “Os produtores brasileiros se dedicam com esmero na manutenção do status sanitário que foi conquistado com esforço e dedicação à atividade”, pontua Sabrina Castilho Duarte.

Veja a seguir quais são as recomendações da Embrapa para o controle da Salmonella spp. em granjas avícolas, seja ela sintomática (Salmonella Gallinarum) ou assintomática (salmonelose paratificas). Lembre-se que todos os fatores são importantes e o controle só é efetivo quando as recomendações são seguidas à risca, com monitoramento permanente e exames periódicos.

ORIGEM E MANUTENÇÃO DA SAÚDE DA AVE

É fundamental obter aves de origem segura e devidamente vacinadas. Para salmonela, a vacinação deve ocorrer ainda no incubatório, ou antes de iniciar a fase produtiva. A legislação permite a vacinação de poedeiras comerciais, e existem vacinas comercializadas com este propósito.

Entretanto, é importante lembrar que a vacina é apenas uma das ferramentas de controle, não tendo efeito curativo. Apesar da principal forma de transmissão ser por contágio, alguns sorovares de Salmonella spp. podem ser transmitidos da matriz para a pintainha. Portanto, uma matriz livre dessa bactéria é um pré-requisito importante para o controle.

Após o fim do período produtivo (no caso da postura), a orientação é que as aves devem ser descartadas exclusivamente para abate, não devendo ser comercializadas vivas diretamente ao consumidor ou em mercados e feiras municipais.

DESINFECÇÃO DO AMBIENTE E VAZIO SANITÁRIO

Esta é uma etapa essencial do processo. Para sua realização, todas as aves precisam ter sido alojadas com a mesma idade, permitindo a saída de todas elas ao mesmo tempo. A higienização deve incluir todo o ambiente, inclusive gaiolas, bebedouros, calhas, piso, parede, teto e telas.

Atente-se quanto à necessidade de reparos na estrutura da granja, pois se houver rachaduras no piso ou for necessária alguma manutenção, o conserto deve ser feito antes de alocar novas aves.

Este procedimento deve estar detalhadamente descrito em protocolo como Procedimento Operacional Padrão (POP). É preciso detalhar o que será limpo e quando em um quadro visível.

Ao fim do lote, o procedimento de desinfecção com limpeza, seguida de desinfecção com o auxílio de desinfetantes diluídos, conforme orientação do fabricante, deverá também ser descrito permitindo fácil e sistemática execução.

Mas, atenção: nenhuma sujeira visível é aceitável. Antes de repor aves no galpão, faça um exame bacteriológico com suabes de arrasto em pontos estratégicos, buscando fazer suabes nas gaiolas, comedouros e demais locais de permanência dos ovos, quando for o caso.

O ideal é que o tempo de vazio sanitário seja de, no mínimo, 15 dias após concluídos todos os procedimentos de limpeza e desinfecção. Não esqueça das telas, que devem ser limpas com jatos de pressão, se possível. Esse tempo precisa ser maior se houver ocorrido Salmonella spp. no lote anterior, variando de 2 a 6 meses dependendo do número de aves positivas no lote.

QUALIDADE DA ÁGUA E DO ALIMENTO

Água e ração ofertadas às aves precisam estar isentas de contaminação de micro-organismos que sejam risco para a saúde animal. Em sua origem, captação e fabricação, assim como armazenamento e distribuição, razão e água devem ter a qualidade monitorada.

Periodicamente, colete amostras de água e ração e envie ao laboratório para exames, garantindo que estejam livres de Salmonella spp. Boas práticas de produção, como a cloração da água, a correta limpeza de caixas d’água e manutenção de ração livre de acesso de moscas e roedores é um ponto muito importante na prevenção de Salmonella spp.

ISOLAMENTO E RESTRIÇÃO DE CONTATO (ANIMAIS)

Por ser uma bactéria de múltiplos hospedeiros, ela pode ser transmitida de aves de vida livre para as aves do sistema produtivo. É preciso evitar contato entre elas, por isso, a instalação de telas de proteção é muito importante. Os funcionários que realizam atividades com bovinos e/ou suínos devem ter cuidado redobrado, já que ambos podem abrigar a Salmonella Typhimurium. O ideal é optar por uma das atividades, mas, caso estejam presentes na propriedade, devem estar delimitados por cerca, em distância segura mínima de 5 metros.

A presença de gatos no sistema produtivo também é proibida, já que estes podem participar da veiculação da Salmonella spp. Já os roedores podem transmitir também a Salmonella Enteritidis, além de outros patógenos indesejáveis. Para este controle, instale iscas e faça a monitoria periódica.

O controle de ácaros também é vital para proteger as aves dos popularmente chamados piolhos. O tipo Dermanyssus sp. geralmente passa o dia escondido em frestas e sujidades presentes na granja; já o Ornithonyssus sp. pode ser observado durante o dia na cloaca das aves, que fica com aspecto sujo. Para a prevenção, é preciso evitar o acúmulo de poeira e sujeira, pois é o ambiente propício para o seu desenvolvimento. Os ácaros também podem ser levados para dentro da granja por aves de vida livre, portanto, lembre-se de instalar e realizar a manutenção da tela de proteção.

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ISOLAMENTO E RESTRIÇÃO DE ACESSO (PESSOAS)

Restrinja o acesso de pessoas alheias ao sistema produtivo para manter o controle da Salmonella em sua granja. Isso porque a bactéria pode ser veiculada por sapatos, roupas e até mesmo mãos contaminadas.

Caso o acesso seja necessário, é indispensável o uso de roupas e sapatos limpos para uso interno. Atualmente é fácil encontrar no mercado itens diversos para a higienização de funcionários e visitantes nos aviários, como produtos químicos e vestuários.

NOTIFICAÇÃO EM CASO DE OCORRÊNCIA

A notificação é obrigatória. Além de beneficiar a granja, que pode realizar o controle de forma orientada, a notificação pode trazer orientações importantes também para o sistema de Defesa Sanitária Animal. Por isso, diante de um evento sanitário, a melhor escolha é notificar o Serviço Veterinário Oficial ligando para o serviço de defesa do seu Estado.

Esconder a identificação de Salmonella spp. no sistema produtivo perpetua o agente no estabelecimento e, pior, pode aumentar a sua resistência. Quando isso ocorre o tratamento das aves não é recomendado, visto que podem ficar portadoras do agente, voltando a eliminá-lo em períodos de estresse. É preciso atenção, pois a bactéria possui mecanismos que a tornam mais forte e difícil de ser combatida à medida que se mantém num lote de aves. Previna antes de remediar!

DESTINO CORRETO DE AVES MORTAS

Quando uma ave morre, rapidamente os micro-organismos presentes na carcaça se multiplicam. Por isso, deixar uma ave morta no ambiente produtivo pode gerar a transmissão de patógenos até então não excretados. As outras aves, inclusive, podem bicá-la e aumentar as chances de transmissão não apenas da Salmonella spp., mas também de outros patógenos. Também não é recomendado deixar a ave morta próxima de caixas de ovos ou próxima às outras aves, mesmo que em gaiola.

Lembre-se também que insetos na granja podem veicular mecanicamente os micro-organismos. As aves mortas devem ser destinadas á compostagem ou outro processo que inative os micro-organismos, como a incineração. Certifique-se que o processo de compostagem, quando adotado, esteja sendo efetivo. Este processo não pode gerar odores e, caso haja, algo está errado: revise o procedimento.

MANEJO DE EXCRETAS E CONTROLE DE MOSCAS

Este é o ponto chave do controle, pois a bactéria é eliminada pelas fezes. As excretas, então, precisam sofrer um processamento por fermentação antes de serem utilizadas para qualquer outro fim ou transportadas a outros locais. Tenha em mente que qualquer excreta contaminada é um risco iminente de transmissão e manutenção de Salmonella spp. na granja.

Evite que esteiras e/ou gaiolas tenham excedente de fezes. Se elas estiverem úmidas vão favorecer a presença de moscas na granja, pois é o ambiente favorável ao desenvolvimento de larvas que emergem moscas adultas em menos de uma semana em épocas quentes.

TREINAMENTO DE FUNCIONÁRIOS

Compreender os processos de transmissão é o que gera atitudes preventivas. É frequente a orientação de gestores quanto ao treinamento dos profissionais que atuam no dia a dia das produções de proteína animal. Quando se sabe o por quê de tais ações, é que elas são melhor assimiladas e aplicadas na rotina.

Funcionários informados mantém boa higiene pessoal, lavam as mãos antes de manipular as aves e os ovos e auxiliam na higiene e limpeza do ambiente de manutenção das aves.

ACOMPANHE AS NOVIDADES

Não é mais possível trabalhar isolado, como há décadas atrás. Hoje, um trabalho de união na cadeia produtiva é fundamental para conquistar novos mercados e manter os que já são parceiros. Para isso, estar atento quanto aos novos investimentos que potencializam a sanidade e a produção como um todo é fundamental.

Um produtor consciente entende que é necessário, continuamente, investir em conhecimento individual e na estrutura das instalações. O esforço dispensado nesses requisitos é uma forma inteligente de se prevenir a Salmonella spp. e outras enfermidades que podem trazer grandes perdas econômicas e, pior, causar graves problemas às pessoas que consomem seus produtos.